O conceito balizador que percorre a atuação do Instituto Alfa e Beto é ponto de partida para o desenvolvimento de uma visão estruturada da educação no Brasil; colaboradores e profissionais das redes municipais parceiras atestam a eficiência das práticas do Instituto
A ideia de levar as evidências para a educação teve origem na medicina, que orienta seus profissionais a partir de protocolos, na prática clínica, na cirurgia ou na prescrição de medicamentos. Essa visão norteia a ação do Instituto Alfa e Beto. A organização não-governamental tem como missão promover políticas baseadas em evidências e melhores práticas em educação. São duas suas prioridades: assegurar a alfabetização de crianças no 1o ano do Ensino Fundamental e promover políticas eficazes de educação na Primeira Infância; e dois os seus objetivos: contribuir para a mudança de políticas com ênfase em causas que o Instituto considera fundamentais para mudar os rumos da educação no Brasil e contribuir para mudar práticas por meio da implementação, em larga escala, de projetos baseados em evidências.
O uso dos dados na gestão fornece subsídios para realizar um planejamento, que antecipa o futuro. Essa é a opinião de Kléber Montezuma, secretário de Educação de Teresina. “Com indicadores e metas definidas, sabemos o que esperar do aluno no final do ano letivo. A gestão é fundamental porque há muitas especialidades dentro da escola. É um universo sistêmico, que depende de planejamento para garantir a unidade e calibrar o rumo”, comenta.
Robério Dias, coordenador do Instituto Alfa e Beto que atende parte da região Nordeste, diz que o trabalho com dados e com foco nos resultados é uma característica que diferencia o Instituto. “É um trabalho que alia pedagogia à gestão como premissa fundamental, e que leva à preocupação com três indicadores com que trabalhamos nas redes municipais de ensino: frequência, ritmo e testes”. Frequência refere-se à presença do aluno na escola, e deve ser sempre 100%; ritmo é a condução do conteúdo pelo professor, seguindo um programa pensado para os 200 dias letivos de aulas; e por fim, os testes aplicados a cada bimestre, para avaliar o desenvolvimento dos alunos dentro dos indicadores do programa do Instituto Alfa e Beto.
O trabalho nas redes públicas de municípios que adotam os programas de ensino estruturado do Instituto Alfa e Beto se inicia a partir de um diagnóstico do município. É feita a avaliação dos indicadores para a rede de ensino em que o Instituto Alfa e Beto começa a operar: dados demográficos, resultados da Prova Brasil e taxas de aprovação e reprovação, entre outros. A análise dos dados e/ou indicadores oficiais permite entender a situação local e definir a melhor intervenção para a correção das distorções identificadas. Com essa série de dados oficiais, é gerado o Diagnóstico do Município, documento resumido do qual emerge a proposta para a rede de ensino. Esse é o ponto de partida. A partir daí, o Instituto Alfa e Beto terá seus próprios indicadores para controle.
Na capital do Piauí, parceira do Instituto Alfa e Beto há vários anos, a análise do diagnóstico local, feita em conjunto com o Instituto, deu origem a investimentos importantes na rede municipal, que atende cerca de 83 mil alunos. Irene Lustosa, secretária executiva da Secretaria de Educação e Cultura de Teresina (Semec), acredita que os dados são fonte de informação para a formulação de políticas públicas na educação. “Se no 3º ano percebo que o aluno não aprendeu a ler, isso nos orienta a investir na base, que é nossa proposta para 2016. Nossa energia será direcionada para a transição dos alunos do 1º para o 2º ano, com crianças de 5 anos, para eliminarmos a necessidade de programas de correção de aprendizagem no médio prazo”, ressalta.
Objetivos e ações
O objetivo dos projetos do Instituto Alfa e Beto é implantar uma educação básica de qualidade, que permita o envolvimento de todos – prefeito, secretário de Educação, coordenador municipal, coordenador de escola, diretor, professor, alunos e até mesmo a família. “Desse alinhamento acontecem os melhores resultados e o aluno é o grande beneficiado”, diz João Luiz Dorneles Antunes, coordenador regional do Instituto Alfa e Beto para a região Sul.
Em geral, o primeiro ano é de adaptação e adequação. O foco está na medicação e acompanhamento dos indicadores de frequência, ritmo e testes e demonstrar aos atores envolvidos a relevância dessa metodologia. Para promover esse alinhamento, o Instituto Alfa e Beto conta com coordenadores técnicos alocados nas cinco regiões do Brasil, que monitoram e orientam a evolução do desempenho do município. “O papel do coordenador do Instituto Alfa e Beto é ajudar o município a manter o foco. Na educação, poucos resultados são imediatos e, por isso, não podemos nos perder no dia a dia”, afirma Ana Helena Catelan Munró, coordenadora nos Estados de Roraima e Mato Grosso.
Quando o coordenador pedagógico e o professor sentam para planejar o ano letivo, montam um cronograma que deverá balizar o andamento durante o ano. Posteriormente, nas reuniões de acompanhamento, os dados são analisados: Por que estou nesse ponto? O que aconteceu aqui? Por que essa parte não andou? Esse é o acompanhamento para saber o ritmo adequado para cumprir o programa e terminar o conteúdo, sempre com foco nos indicadores de frequência, ritmo e testes.
Em Aracaju, a implementação dos programas de ensino estruturado do Instituto Alfa e Beto e a gestão com base em dados e indicadores, a partir de 2013, foi essencial para uma mudança no gerenciamento dos resultados da Secretaria de Educação do município. “Com as ferramentas de gestão adequadas, conseguimos identificar dificuldades ou entraves nos processos e contribuir para que ajustes e até mudanças de estratégias façam o sucesso da aprendizagem no âmbito escolar e elevem a qualidade dos serviços para a comunidade”, explica Márcia Valéria Lira Santana, secretária de Educação da capital do Sergipe.
O Instituto Alfa e Beto também oferece ferramentas para apoiar nesse processo de monitoramento e controle. Antes feito em planilha, agora existe o SIGIAB – Sistema de Gestão do Instituto Alfa e Beto. O diretor acessa o sistema e lança os dados do município, depois, faz o acompanhamento on-line, desde a rede de ensino, como um todo, até de uma turma específica. Ele pode, também, acompanhar o ritmo do aprendizado dos diferentes conteúdos, língua portuguesa, matemática ou ciências, por exemplo. Os dados são analisados de forma conjunta pelo Instituto Alfa e Beto e pela equipe da Secretaria Municipal de Educação. A sistemática facilita a vida dos profissionais e técnicos envolvidos no trabalho. Marilene Maranhão Montarroyos, coordenadora do Instituto Alfa e Beto em Pernambuco, é entusiasta da ferramenta. “Quando recebo os resultados dos municípios que atendo e identifico algum problema, verifico as escolas com situação mais delicada, avalio e oriento. Nas visitas presenciais, converso com professor, diretor, coordenador e vejo a necessidade de intervenção em cima dos dados.”
Em Aracaju, foi aplicado um teste diagnóstico nas turmas do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental no primeiro ano da parceria, com a orientação do Instituto Alfa e Beto. Os resultados de nível de leitura, escrita e compreensão fizeram com que a secretaria implementasse programas intensivos de alfabetização dos alunos com dificuldades. Além disso, com o uso do SIGIAB, a secretaria pode acompanhar com afinco indicadores como frequência e ritmo. “Para nós, esse mecanismo dá um diagnóstico claro das turmas e escolas. Já avançamos muito graças ao acesso a essas informações. Sabemos que, nos anos iniciais, o índice de ausência na Pré-escola depende muito dos pais. Com essas informações, agora temos um trabalho forte focado em frequência, aprovação e alfabetização”, complementa Tania Leite, coordenadora do Ensino Fundamental da rede de ensino municipal.
O papel da gestão no desempenho da escola
Conhecer os dados por si só não é suficiente para garantir mudanças. Influem no processo o trabalho de profissionais qualificados: o diretor eficaz e o secretário de Educação, com sua equipe adjunta, todos comprometidos com a aprendizagem. “O nosso trabalho é de parceria”, diz Williana Cristina da Silva Melo, coordenadora do Instituto Alfa e Beto no Rio de Janeiro. “De um lado, temos as metas, objetivos e resultados do Instituto Alfa e Beto para cada município e, do outro, temos o pessoal da Secretaria, que faz o programa rodar na ponta. Nossa função é de apoio, para que essas pessoas adquiram autonomia para analisar os resultados na rede de ensino, de entender que o dado e o registro são importantes para a tomada de decisão”, aponta Williana.
A função de diretor exige um conjunto específico de habilidades gerenciais, administrativas e de liderança. No caso da escola, o diretor deve ser aquele que convive e resolve os conflitos, cuidando, sem aparecer. Bons diretores também exercem a liderança pedagógica com foco na missão da escola, que é a de ensinar. “Tudo em educação, pedagogia e gestão escolar tem a ver com calendário. Ano letivo, férias, hora aula, semestre, bimestre, 200 dias, tudo é regulado por isso. Essa consciência do modo de produção da escola é o fundamento da ação gerencial do diretor: saber que o que está acontecendo a cada dia estava previsto, é parte de um todo que deve dar resultado”, explica João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, .
Quando se fala em método ou sistema de trabalho na gestão escolar, o diretor sabe que precisa equilibrar a parte pedagógica com o administrativo. Ele tem o papel fundamental também no controle dos indicadores de frequência, ritmo e testes no dia a dia, nas reuniões de planejamento e pelo SIGIAB. É a pessoa chave para que a educação baseada em evidências funcione. “Com o Instituto Alfa e Beto, isso fica claro, porque temos material, temos agenda, fica tudo registrado. Como gestora, é preciso olhar onde há dificuldade, comparar resultados, e estabelecer dinâmicas e processos para que os resultados melhorem”, sugere Adones Rosalídia de Meneses, diretora da escola Centenário, de Boa Vista (RR).
Na capital de Roraima, que atua em conjunto com o Instituto Alfa e Beto desde 2013, essa consciência do papel do gestor e da importância das evidências na aferição de diagnósticos já vem provocando mudanças importantes. Angelita Nóbrega da Silva, coordenadora do projeto Saber Igual que atende a toda a capital de Roraima, reforça que os dados e o monitoramento são um termômetro do andamento do trabalho e dão parâmetros para os próximos passos. “Realizamos reuniões gerenciais mensais, em que avaliamos fluência, frequência e ritmo em uma, e na outra, avaliamos os resultados e traçamos novas metas”, afirma Angelita. Os resultados já começaram a aparecer: na comparação dos alunos de 4º e 5º anos, em 2013, o índice de não alfabetizados era de 32%, e em 2015, caiu para 15%.
Parceiro do Instituto Alfa e Beto na rede municipal desde 2009, o município de Petrolina (PE) traz bons exemplos de gestão escolar e resultados práticos. No primeiro ano de trabalho, o índice de alunos alfabetizados no 1º ano era de 43%. Este ano, subiu para cerca de 80%. Para o prefeito do município, Julio Lóssio, os dados mostram a relevância de um trabalho com ensino estruturado, que coloca Petrolina entre os melhores IDEB de Pernambuco, à frente, inclusive de 22 capitais. Esse trabalho é fruto de um esforço feito desde a base, com o Programa Nova Semente, que atende 7 mil crianças e oferece assistência à primeira infância. “O Instituto Alfa e Beto desenhou o protocolo de atendimento às crianças e de treinamento das professoras, a partir de uma metodologia apresentada no governo, e que poderá ser replicada em outras cidades”, explica.
“Além de participar na implementação dos programas nas escolas da rede pública municipal, o Instituto Alfa e Beto contribui com a ampliação na análise dos resultados, que nos permite traçar ações de reforço ou ajustes”, ressalta o secretário de Educação da cidade, Heitor Leite. Um bom exemplo foi a implantação do Troféu Eficiência – Gestão Escolar em 2015, implantado pela Secretaria Municipal de Educação de Petrolina, que premiará, em janeiro do próximo ano, as escolas da rede pública local com base em 22 indicadores de eficiência e qualidade.
Na escola José Carlos, em Teresina, a diretora Nora Ney Pacheco reconhece que o uso de dados tem ajudado nas rotinas e decisões sobre o trabalho pedagógico. Desde 2014, a escola utiliza os programas do Instituto Alfa e Beto. “Com os dados, sabemos as condições de aprendizado dos alunos e posso falar com o coordenador pedagógico e o professor para planejar as atividades. O Instituto Alfa e Beto nos dá toda a condição nesse sentido”, diz. Em 2015, a escola adotou, também, o aplicativo Galáxia Alfa, que utiliza recursos de games para ajudar na alfabetização das crianças, com o uso de tablets. A diretora está otimista com a novidade. “O tablet complementa o programa, e os alunos vêm demonstrando crescimento no aprendizado, para chegar com habilidades e competências mais desenvolvidas nos anos seguintes”.
A teoria na prática: casos de sucesso
No município de Bom Jesus, no sul do Piauí, o início da parceria com o Instituto Alfa e Beto, em 2014, marcou uma etapa de iniciativas implantadas para promover a evolução da qualidade do ensino na rede do município no médio prazo. Ângela Sales, coordenadora geral do programa Alegria do Saber, que engloba toda a rede pública da cidade, cita o diagnóstico feito, nesse mesmo ano, que identificou um índice de 80% de não alfabetização em alunos do 1º ao 5º ano na cidade. “Com a adoção do ensino estruturado, no primeiro semestre de 2015, o índice caiu para 40%”, diz. Os alunos são submetidos a quatro testes de leitura por ano, para avaliar o nível de decodificação, fluência de leitura e compreensão. “Atuamos sempre com base em planejar, executar, controlar e avaliar e temos a meta de reduzir em 70% o analfabetismo nas escolas da rede até o final de 2015”, comenta.
Em Caculé, interior da Bahia, o Instituto Alfa e Beto participa como parceiro da rede municipal de ensino desde 2006, no suporte a uma rede de 3.300 alunos. Na Secretaria Municipal de Educação, a equipe tem como o objetivo contínuo promover a evolução da qualidade do ensino na rede, com indicadores que monitoram cada ano letivo e acumulam-se em uma série histórica. “Sabemos indicadores de frequência, rendimento nos testes, quais escolas tiveram melhor ou pior desempenho. O desafio é fazer com que as escolas continuem entendendo a importância do trabalho organizado”, avalia a secretária municipal de Educação, Adeílde Teles. “Além disso temos uma reunião a cada 15 dias, para analisar o painel de desempenho e planejar a aula conforme os resultados”, diz.
A cidade superou a média da Bahia e foi destaque no Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (IOEB), que mede a qualidade das oportunidades educacionais da educação básica. A educação no município atingiu média de 4,5, avaliação superior à média do Estado, que é de 3,6 – e ocupa o 6º lugar.
Caculé também aderiu ao aplicativo Galáxia Alfa, que tem sido um apoio importante para os professores, que recebem um relatório com o desempenho de cada aluno no uso do tablet. “O Galáxia Alfa mostra para o professor a evolução dos alunos, e com ele, diminuiu a indisciplina na sala de aula, houve aumento de concentração e desempenho na leitura, escrita e coordenação motora dos alunos”, destaca Eleni Dias, coordenadora dos programas pedagógicos do município. “O tablet dá autonomia para a criança se desenvolver”, completa a professora Maria Madalena Rodrigues Pereira, do 1º ano da escola M. Clemente Teixeira da Cunha.
No município de Mato Queimado, interior do Rio Grande do Sul, a experiência do trabalho com dados e evidências também tem sido positiva e significativa para a Secretaria Municipal, que adota os programas do Instituto Alfa e Beto desde 2009. “Em comparação a outros municípios da região, os alunos conseguem alcançar de forma mais completa e real a alfabetização já no 1º ano. Fica cada vez mais evidente que não são necessários três anos para a alfabetização: ou seja, quando um programa é completo, embasado em evidências e melhores práticas, ele surte o efeito esperado no tempo certo”, avalia a secretária de Educação do município, Raquel Cattelam.
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