Todas as crianças, mesmo aquelas com dificuldade de aprendizagem, são capazes de se alfabetizar ao fim do 1º ano do Ensino Fundamental. É o que dizem as evidências científicas. Mas para isso, é preciso que os professores e as escolas se prepararem para fazer um trabalho comprometido com a causa da alfabetização. Afinal, como diz Roger Beard, professor e pesquisador inglês, uma das tarefas mais importantes da escola é ensinar as crianças a ler e a escrever.
Esta mensagem é particularmente importante no dia de hoje. No dia 8 de setembro comemora-se o Dia Internacional da Alfabetização, uma data criada em 1967 pela ONU e pela Unesco para fomentar o tema ao redor do mundo. Para o Instituto Alfa e Beto, que nasceu do trabalho com alfabetização, essa data é motivo tanto de comemoração quanto de reflexão.
Comemoração porque ao longo de quase dez anos de trabalho o Instituto já alfabetizou mais de 1 milhão de crianças nos municípios onde já atuou, em parcerias com prefeituras e secretarias de educação. O caso de maior sucesso é Sobral, no Ceará, que ganhou destaque por oferecer ensino público de qualidade a todas as crianças. O reconhecimento de Sobral vem do fato de o município conseguir alfabetizar quase 100% de seus alunos no 1º ano, ou seja, na idade em que a ciência diz que a alfabetização deve acontecer.
Esse feito de Sobral só foi possível com o Programa de Alfabetização Alfa e Beto. Com trabalho sistemático e comprometimento, o município foi se desfazendo de seu passado entre as piores redes de ensino do Nordeste para ganhar notoriedade no país. E agora, a tecnologia passa a ser uma aliada importante nesse processo com a chegada do Galáxia Alfa, um software desenvolvido integralmente pelo Instituto Alfa e Beto e que contempla todas as fases da alfabetização de forma interativa e atraente.
Mas como dissemos no início do texto, esse também é um dia para reflexão. Isso porque sabemos que cidades como Sobral apenas se destacam por serem raridades no Brasil.
Os dados disponíveis no Brasil mostram que não existe uma política e um processo eficaz de alfabetização na maioria das redes de ensino. Se o aluno não foi alfabetizado no 1º ou 2º ano (séries em que supostamente há um professor alfabetizador), é pouco provável que ele tenha um professor no 3º ano que o alfabetize. E, dessa forma, as dificuldades se perpetuam, comprometendo todo o desempenho escolar das crianças. É o que mostram os dados educacionais brasileiros.
Esta situação só mudará quando as políticas públicas de alfabetização passarem a incorporar os achados da ciência sobre leitura e escrita. Nos últimos 40 anos, houve uma revolução nos conhecimentos a respeito da alfabetização. Nos últimos 20, essa revolução vem sendo consolidada com os conhecimentos da neurociência, que nos permite detectar no cérebro algumas das marcas deixadas pelos processos de alfabetização. O paradigma dominante nessa área se chama ciência cognitiva da leitura, e reúne cientistas de diversos campos do saber.
Por isso, nossa mensagem para reflexão nesse Dia Internacional da Alfabetização aponta para a urgência de alfabetizarmos as crianças na idade certa. Afinal, toda criança pode e deve aprender a ler e a escrever na idade certa.
Se você concorda, comente e compartilhe esse texto com seus colegas. Acreditamos que o debate sobre esse problema é o primeiro passo para a ação. Só não vale desistir diante das dificuldades: a mudança na educação começa na sala de aula.