Nenhum sistema educacional no mundo excede a qualidade de seus professores: ou seja, professor bom, educação que funciona. Afinal, é dentro da sala de aula que a educação acontece e no modelo atual de educação escolar – e até prova em contrário face às novas tecnologias – o professor é a peça-chave.
Portanto, oferecer educação de qualidade passa, necessariamente, pelo bom recrutamento e desenvolvimento dos docentes. Por isso, em 2006 o exame do PISA, aplicado pela OCDE, perguntou a perguntou a estudantes de 15 anos de idade de mais de 60 sistemas de ensino do mundo que profissão eles desejariam ter aos 30 anos de idade. Cerca de 44% dos estudantes nos países respondentes disseram que desejariam trabalhar com ocupações de status elevado, que normalmente exigem um diploma universitário. Porém, apenas 5% desses estudantes responderam ter desejo de trabalhar como professores. Isto sugere que, em média, apenas um em cada dez estudantes que deseja ter uma profissão com nível universitário tem intenção de seguir uma carreira relacionada ao magistério.
Um dos dados mais preocupantes trazidos pela OCDE, e registrados no boletim PISA in Focus 58, é de em países como o Brasil, Argentina, México e Colômbia, são os alunos com pior desempenho em linguagem e matemática os que aspiram seguir na carreira docente. Enquanto isso, em países como Finlândia e Luxemburgo, os jovens que desejam ingressar no magistério são os que apresentam as maiores notas nessas disciplinas – notas maiores, inclusive, que dos alunos que aspiram outras profissões que exigem nível superior. Já em países como Chile e Alemanha, não foram registradas diferenças significativas entre as notas dos estudantes desses dois grupos.
Mas, afinal, como podemos atrair estudantes mais preparados para os desafios da sala de aula?
O documento da OCDE oferece algumas pistas. A questão salarial, apesar de não ser decisiva, é um componente importante. Ao mesmo tempo em que a competição por talentos está se intensificando na maioria dos países, os alunos com bom desempenho têm uma gama de oportunidades de carreiras mais atrativas e com melhores salários. Na média dos países da OCDE, os professores do ensino fundamental ganham 85% do salário de um adulto com ensino superior que trabalha em tempo integral em uma profissão diferente. Professores que atuam no ensino médio têm salários um pouco mais altos, com 88% do valor de referência. As condições de trabalho e oportunidades de crescimento também precisam ser levadas em conta nessa equação – além de atrair bons profissionais, é preciso retê-los no sistema.
A OCDE afirma também que a baixa atratividade da carreira docente envolve uma questão de gênero. Cerca de dois terços dos professores em todos os níveis de ensino (desde a educação infantil até o ensino superior) são mulheres. O PISA revela ainda que em quase todos os países da OCDE, mais meninas do que meninos esperam trabalhar como professores (6% contra 3% na média). Ao mesmo tempo, as meninas estão sub-representadas entre aqueles que podem seguir carreiras de computação e engenharia.
A feminização da profissão docente é uma preocupação em muitos países. Segundo especialistas, uma força de trabalho de ensino mais diversificada pode ser capaz de atender de maneira mais ampla a expectativas dos alunos. E, como os países lutam para encontrar candidatos qualificados para trabalhos de ensino, atrair homens na profissão poderia reduzir a escassez e aumentar o número de candidatos adequados, impulsionando a qualidade.
A entidade internacional conclui que os sistemas escolares só serão capazes de recrutar e reter jovens qualificados e motivados se oferecerem salários semelhantes e condições de trabalho a de outros profissionais com mesmo nível de formação, elevando o prestígio social da carreira.
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A falta de atratividade da carreira docente para alunos de alta performance já vem sendo discutida pelo Instituto Alfa e Beto há uma década. Clique aqui para ler mais sobre esse tema.