A revista especializada The Lancet, que publica periodicamente avanços da ciência nas áreas da saúde e medicina, dedicou sua mais recente edição ao desenvolvimento infantil. São onze artigos que analisam evidências científicas sobre intervenções de larga-escala e sugerem estratégias de implementação em diferentes contextos.
A economista Florencia Lopez-Boo, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, aponta quarto mensagens-chave que a publicação traz, que resumimos abaixo:
O início é mais importante
Como mostram as evidências, o desenvolvimento começa na concepção e a Primeira Infância é um período de especial sensibilidade aos fatores de risco, que ameaçam o bem-estar físico, mental, cognitivo e social. As experiências mais significativas durante os primeiros anos acontecem na companhia dos pais, de membros da família, de cuidadores próximos e da comunidade. Uma criança se desenvolve bem em um ambiente estável, sensível a sua saúde e suas necessidades nutricionais, que a proteje de ameaças e gera oportunidades de aprendizado desde cedo por meio de interações sensíveis. As famílias precisam de apoio para proporcionar este cuidado. Tal apoio pode ser material ou financeiro e chegar por meio de políticas de transferiria de renda, da ampliação da licença parental remunerada e de intervenções nas áreas da saúde, educação e proteção social.
O custo de não intervir é muito mais elevado
Estima-se que 250 milhões de criança menores de 5 anos que vivem em países subdesenvolvidos enfrentem riscos de não desenvolver seu potencial devido a problemas de pobreza e desnutrição. Além disso, sabemos que um começo frágil na vida geralmente leva a uma trajetória deficiente de resultados futuros, o que se reflete em uma saúde ruim, uma nutrição inadequada, uma baixa remuneração e um rendimento deficitário na vida adulta. De acordo com estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a falta de investimento em Primeira Infância pode levar os países a perdas no Produto Interno Bruto (toda a riqueza gerada pelo país) superiores aos seus gastos atuais com saúde e educação.
Realizar intervenções multisetoriais, com o setor de saúde como ponto de entrada para chegar às crianças
De acordo com os especialistas, intervenções específicas de desenvolvimento infantil poderiam ser mais exitosas se fossem integradas aos serviços de saúde materno-infantil já existentes. A atenção deveria levar em conta as necessidades da criança, assim como as do cuidador principal.
As lideranças governamentais são fundamentais para a ampliação dos serviços que funcionam
A The Lancet ajuda a responder uma questão fundamental para elaboradores de políticas públicas: é possível transformar projetos locais bem sucedidos em políticas nacionais de sucesso? De acordo com os pesquisadores, a resposta é sim – mas só quando há protagonismo do governo e, principalmente, quando há o entendimento por parte do poder público de que, quando falamos de desenvolvimento infantil, não basta levar em conta apenas a prevenção de doenças. Proporcionar o bom desenvolvimento infantil, de maneira global, é permitir o pleno desenvolvimento de todos os cidadãos.