A população brasileira, onde quase metade (44%) não possui o hábito de ler livros, tem mantido esse percentual estável nos últimos 12 anos. Isso ocorre mesmo com o aumento significativo de brasileiros que concluíram, ao menos, o ensino médio. Esses dados fazem parte da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada recentemente pelo Instituto Pró-livro e pelo Ibope na última edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Apesar do aumento da escolaridade, esperávamos uma elevação nos nossos níveis de leitura, que continuam muito baixos em comparação aos países desenvolvidos. Infelizmente, isso não aconteceu. Além do problema conhecido da qualidade insatisfatória do nosso ensino, a pesquisa oferece outras pistas sobre por que mais educação não se transforma em mais leitura. A influência dos pais, dos professores e a forma como usamos bibliotecas públicas ou escolares são alguns desses motivos.
O Papel dos Pais na Formação do Leitor
O estudo reforça que o hábito de leitura é construído durante a infância, e os pais desempenham papel crucial nesse processo. Apenas um terço dos brasileiros afirma ter tido a influência de alguém na formação do seu gosto pela leitura. Nesse contexto, a figura mais citada é a mãe.
Daí a importância de focar também nos pais nas políticas de incentivo à leitura. Outro estudo, divulgado recentemente e realizado pela Universidade de Nova York e pelo Instituto Alfa e Beto em Boa Vista (RR), confirma essa perspectiva. A pesquisa avaliou um programa que incentivava e treinava os pais a lerem para os filhos. O resultado foi um aumento no vocabulário e na memória de curto prazo das crianças, além de uma diminuição nos problemas de comportamento.
O Papel dos Professores e Bibliotecas na Promoção da Leitura
Os professores, como sempre, desempenham um papel fundamental. No entanto, a mesma pesquisa do Instituto Pró-Livro e do Ibope revela que eles também têm pouco hábito de leitura. Mesmo com 84% dos professores afirmando que leram um livro (ou parte dele) nos três meses anteriores à pesquisa, quando questionados sobre o título do livro lido, 50% afirmou não estar lendo nenhum livro, e 6% não se lembram ou não responderam.
Já em relação às bibliotecas, 71% dos brasileiros as veem principalmente como um lugar para pesquisar e estudar. Esse pensamento não é um problema em si, mas a visão da biblioteca como um lugar para empréstimo de livros ou um espaço de lazer é mencionada com menor frequência, sempre abaixo de 30%. Entre os estudantes, o padrão é similar: 75% afirmam que vão à biblioteca para pesquisar ou estudar, e apenas 34% procuram esse espaço para ler livros por prazer.
Leitura e Educação: Um Desafio para o Futuro
A lei estabelece que todas as escolas devem ter uma biblioteca ou sala de leitura no Brasil até 2020. Em 2015, apenas 53% das escolas possuíam esse recurso. É inaceitável pensar em um espaço educacional sem biblioteca, mas a pesquisa sugere que a simples existência desse recurso não é garantia de que vamos incentivar hábitos de leitura nos estudantes. É necessário, portanto, saber como aproveitar ao máximo esses espaços.
Fonte: O Globo.