Se um aluno pode ler no papel, ele também pode ler online, certo? Não exatamente. Existe uma diferença importante entre as duas habilidades – sendo a primeiro, claro, essencial para a segunda. Mas para ser capaz de ler bem na tela, não basta decodificar e apreender sentido. Também são necessárias outras habilidades como a capacidade de navegar através de diferentes páginas na internet, filtrar fontes relevantes e confiáveis, e saber lidar com uma quantidade infinita de informação. Bem diferente da leitura linear da maioria dos livros.
Pelo menos é isso que aponta um relatório* divulgado em setembro pela OCDE, organização internacional responsável pela aplicação do Pisa, exame que avalia jovens de 15 e 16 anos em mais de 60 países. Além de avaliar habilidades de leitura, matemática e ciências, o Pisa também vem avaliando conhecimentos digitais – essenciais para o jovem do século XXI.
De acordo com o documento os estudantes que tiveram bom desempenho na prova de leitura em papel também atingiram boas pontuações no teste referente a suas habilidades digitais, especialmente leitura online, reforçando que ensino da língua eficiente segue sendo a base para o chamado “letramento digital”. Infelizmente, o Brasil atingiu uma pontuação baixa nos dois quesitos. Mas ler bem não basta para surfar na onda da internet.
Entre os países avaliados, um em cada dez alunos demonstrou dificuldades de navegação, sinalizando falta de conhecimentos básicos de informática e falta de familiaridade com a navegação na web. Isso, aponta a OCDE, interfere no desempenho da leitura quando feita em uma tela, algo que pode ser um grande problema dado o alto nível de conectividade entre os adolescentes.
Em média, os estudantes em Cingapura, seguidos por estudantes na Austrália, Coreia, Canadá, Estados Unidos e Irlanda, obtiveram a classificação mais alta em relação a seu comportamento de navegação na internet. Eles demonstraram, por exemplo, capacidade para checar um link antes de clicar nele e encontrar outros links relacionados a um tema. Mas em Macau, Xangai e Taipei, os estudantes apresentaram dificuldades nesse tipo de leitura – mesmo estando no topo da lista quando o assunto é leitura em papel.
O diferencial dos estudantes que melhor leem na internet está no fato de que eles sabem como navegar através de textos digitais. Isso mostra que as conexões entre estudantes, computadores e aprendizagem não são tão simples nem altamente conectadas. As contribuições reais que as tecnologias para educação podem dar ao ensino e à aprendizagem ainda têm de ser plenamente exploradas, destaca o relatório.
Mas, enquanto os computadores e a internet têm um papel central em nossas vidas pessoais e profissionais, estudantes que não tenham adquirido competências básicas em leitura, escrita e navegação em uma publicação digital ficarão desconectados da vida econômica, social e cultural em torno deles.
A mídia online e outros serviços baseados na internet oferecem novas oportunidades para enriquecer nossas vidas, e o estudo conclui que os indivíduos devem estar familiarizados com textos digitais e dominar as habilidades de navegação, a fim de se beneficiar plenamente dessas oportunidades.
*Para ler o relatório completo da OCDE (em inglês), clique aqui.