A pandemia de covid-19 levou milhares de escolas brasileiras a adotar o ensino on-line para não prejudicar ainda mais o ano letivo. Alunos e professores passaram a conviver com novas ferramentas tecnológicas, flexibilidade de horários e fóruns virtuais de discussão. Com a volta das aulas presenciais no horizonte, o que a sala de aula pode aprender com o modelo de ensino à distância?
Esse foi o tema da palestra do presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, durante a cerimônia virtual de formatura da segunda turma dos cursos da Plataforma Alfa e Beto à Distância, no dia 18 de agosto. A divisão entre ensino presencial, à distância e híbrido provoca discussões sobre o papel da escola como instituição e os méritos e desafios de cada um desses sistemas de ensino.
O modelo de ensino presencial é bastante difundido e obrigatório na maior parte dos países. As empresas valorizam esse tipo de educação, que sinaliza para o mercado de trabalho que o aluno desenvolveu habilidades não-cognitivas como a disciplina e a persistência.
No Brasil, a escola, com suas aulas presenciais, faz menos do que deveria fazer. “O capital humano e o conhecimento produzido nas escolas brasileiras deixam muito a desejar”, comenta o professor João Batista Oliveira.
Para avançar na questão da qualidade da educação oferecida no país, pode ser interessante olhar para as características dos modelos on-line e híbrido de ensino.
Muito mais do que integrar a tecnologia à rotina pedagógica da sala de aula presencial, outras características do modelo on-line podem ser adaptadas ao ensino tradicional, como a autonomia e independência dos alunos, o foco no conteúdo (sem distrações) e a aprendizagem autorregulada. Com materiais organizados em módulos, os estudantes podem assistir a uma aula várias vezes.
Para João Batista Oliveira, o “hibridismo” pode fortalecer o ensino presencial. “De todas as características inerentes ao modelo à distância, considero os mais importantes o controle do ritmo por parte do aluno e também a autonomia e independência. Sendo otimista, é possível obter o melhor dos dois mundos”, diz.
Um dos pontos principais dessa reflexão é saber o que funciona no ensino presencial. Historicamente, o Brasil possui duas correntes educacionais. A primeira é a chamada linha construtivista, baseada no psicólogo suíço Jean Piaget, que defende que o aluno constrói seu próprio conhecimento. Esta é a linha predominante. Já a segunda linha é o chamado ensino estruturado, que tem resultados mais robustos, apoiados em evidências científicas.
Independente de incorporar algumas características importantes das aulas on-line, o ensino no Brasil só vai avançar se tiver como base os princípios do ensino estruturado: “Nesse tipo de ensino, as regras do jogo ficam claras. É preciso atenção à frequência, data da prova, avaliações. Professores e alunos sabem quais são as expectativas em relação a eles e o que deve ser feito em cada aula”, explica o especialista.