A leitura interativa – como a conversa – é como um jogo de tênis: um manda a bola, o outro rebate. Na leitura interativa o que vale é o diálogo em torno do texto.
Esta é a forma mais eficaz para promover o gosto e hábito pela leitura. Além disso, ela também estimula o desenvolvimento da linguagem: o vocabulário, o conhecimento do mundo, o entendimento de estruturas sintáticas, o conhecimento das letras, a função dos livros e dos diferentes tipos de texto e, sobretudo, o desejo de aprender a ler.
O livro é muito importante desde as fases iniciais da vida. Já durante a gestação, o bebê aprende a identificar vozes, ritmos e características da língua que aprenderá a falar. Mesmo antes de aprender a ler, o contato com livros e com a leitura feita por adultos ajuda a criança a aprender uma linguagem diferente – e muito mais complexa – do que a usada no dia a dia.
Introduzir a criança ao mundo dos livros significa introduzir o mundo na vida da criança. Os livros apresentam diferentes maneiras de comparar e apreender o mundo, já que os objetos reais são representados por meio de figuras, palavras e sinais, dando início a formas variadas de abstração.
Além disso, os livros permitem aos adultos conversar com as crianças a respeito de uma variedade de temas mais ampla do que a que surge espontaneamente no dia a dia, possibilitando novas abordagens sobre temas cotidianos como os sentimentos, os medos, os sonhos, as emoções, as opiniões de outras pessoas e as realidades que não estão no dia a dia da criança. Ou seja, a leitura interativa permite aos pais ajudar as crianças a fazer a ponte entre o mundo da leitura (o que está nos livros) e a leitura do mundo (o que os livros dizem sobre o mundo. A interação entre os pais, com ou sem livros, permite percorrer o caminho contrário – por exemplo, quando você visita um zoológico e compara com os bichos que a criança já conhece dos livros.
Ler, brincar e conversar são os instrumentos que a criança usa para aprender. Estes instrumentos, porém, não são de efeito automático: dependem dos atores e da forma de usá-los. Todos os três são essenciais, e os cuidadores desempenham um papel muito importante para que esses instrumentos possam ajudar a desenvolver a linguagem, o pensamento e a inteligência da criança.
Dicas para fazer a leitura interativa:
O que ler?
- Leia os livros que a criança escolher, os livros de que ela mais gosta.
- Leia livros que interessem a criança, de acordo com sua idade e seus gostos. A criança não nasce com os gostos definidos, você pode influir muito oferecendo e lendo com ela livros bons, de maneira dialogada.
- Leia livros variados, livros literários e livros que trazem informações sobre pessoas, animais, plantas, veículos, enfim, assuntos que interessam a criança.
- Assuntos que mais atraem as crianças em cada idade:
- Até 12 meses: fotos de bebês; caras e expressões
- 12-24 meses: objetos familiares; rotinas do dia a dia; cenas familiares
- 24-36 meses: veículos, animais, natureza; livros com ou sem palavras, com sons, rimas e onomatopeias; pequenas histórias; histórias e personagens divertidas
- 3-5 anos: aventuras; contos; fábulas; histórias da Bíblia; histórias com explicações sobre o funcionamento das coisas; livros informativos
Como ler? ESPICHE A CONVERSA
E – Espiche a conversa. Espichar a conversa é interagir, estimular, comentar, trocar ideias, perguntas e respostas com a criança.
S – Siga as dicas da criança. Retome e amplie o que ela disser, usando corretamente as palavras que ela usou do jeito dela.
P – Pergunte de forma que a criança dê explicações, analise, ou faça comparações ou predições, e possa imaginar coisas que poderiam acontecer.
I – Individualize a interação: concentre-se na conversa com a criança. Se houver outras crianças elas podem participar da conversa, mas mantenha sua atenção em uma de cada vez.
C – Converse em torno de um tema, isso ajuda a criança a repetir as mesmas palavras e reter os seus sentidos.
H – Habitue a criança a ouvir, esperar a vez, intervir na hora certa, intervir de forma adequada, a participar ativamente da conversa e a aceitar opiniões diferentes da sua.
E – Encoraje a criança a conhecer, explorar e conversar sobre situações, assuntos e livros novos, e não apenas sobre assuntos que ela já conhece e gosta.
A – Ajoelhe, agache ou sente-se no chão para fazer contato visual com a criança.
C – Conte e estimule a criança a contar histórias sobre sua vida, a narrar eventos e a descrever o que está fazendo.
O – Ouça com paciência. Espere a criança organizar sua fala. Não tente ajudar, adivinhar ou apressar a criança.
N – Não monopolize a conversa nem dê respostas prontas. As crianças devem falar, ao menos, 50% do tempo em cada interação.
V – Você é o modelo: use vocabulário rico e abstrato, estimulando a criança a pensar e imaginar.
E – Estimule a criança a usar palavras adequadas e frases completas para expressar ideias e perguntar sobre coisas que ela não entende.
R – Responda perguntando, devolva perguntas com outras perguntas, dando exemplos, estimulando as crianças a procurar e usar palavras semelhantes, sinônimos, antônimos.
S – Selecione um assunto, relacione-o com outras conversas, leituras ou eventos reais ou imaginários para ajudar a criança a estabelecer relações entre eles.
A – Aproveite todos os momentos como o café da manhã, almoço e passeios na rua para conversar individualmente com cada criança.
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Evidências Científicas
- COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Educação Infantil. Relatório do Seminário Internacional sobre Educação Infantil. Brasília: CNC/Câmara dos Deputados/IAB, 2007.
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- NEWUMAN, S.B. Books make a difference. A study of access to literacy. Reading Research Quarterly, 34, 286-312.
- SNOW, C.; GRIFFIN, P. (Eds.). Preventing reading difficulties in young children. Washington, D.C.: National Academy Press, 1999.