Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, João Batista Oliveira comenta a nota divulgada esta semana por ex-ministros da Educação, na qual se defende, mais uma vez, uma pauta consensual equivocada.
Em resposta a uma nota divulgada esta semana por seis ex-ministros da Educação, o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, redigiu um artigo – publicado nesta quinta, 6 de junho, na Folha de S. Paulo – em que sugere reflexão a respeito “não apenas pela autoridade dos signatários, mas sobretudo pelo consenso a respeito do que precisa ser feito para melhorar a educação do país”. Para o professor João Batista Oliveira, é preciso aprender a fazer mais e melhor com menos, já que teremos, nos próximos anos, uma realidade de cofres vazios nas três esferas de governo. Leia o artigo na íntegra abaixo:
A nota divulgada recentemente por ex-ministros da Educação merece reflexão não apenas pela autoridade dos signatários, mas sobretudo pelo consenso a respeito do que precisa ser feito para melhorar a educação no país.
As críticas ao governo não apresentam qualquer novidade –poucas pessoas que acompanham a ação na área da educação seriam capazes de discordar. Dentro do próprio governo parece haver muita gente que também pensa assim.
O que chama a atenção é a convicção compartilhada pelos ex-ministros a respeito (a) do acerto das políticas educacionais vigentes até o momento e (b) dos próximos passos que precisam ser seguidos para se avançar nesta área.
O documento é correto ao documentar avanços. Efetivamente, a cobertura da educação aumentou, assim como aumentaram vertiginosamente os recursos a ela destinados. Bem ou mal, o país estabeleceu alguns instrumentos institucionais importantes, como as avaliações e a rede de instituições de pós-graduação e pesquisa.
Os signatários estão corretos quanto à existência de um “grande consenso” a respeito da pauta do “mais” (mais recursos, mais sistema nacional de educação etc.). Mas há três fortes razões para suspeitar que a pauta embutida nesse consenso representa um monumental equívoco.
Primeiro, essas ideias nunca funcionaram em nenhum país e não vêm funcionando aqui há décadas. Por exemplo, a tal reforma do ensino médio, aprovada há mais de dois anos, sequer saiu do papel —de tão ambígua e confusa que é.
Segundo, as propostas e estratégias centralizadas para melhorar a educação nunca tiveram sucesso aqui e não encontram respaldo na experiência internacional. Não há razão para insistir nelas.
Terceiro —e esse deveria ser o primeiro ponto—, não há e não haverá recursos adicionais para a educação nos próximos anos ou décadas. É preciso aprender a fazer mais e melhor com menos. Para avançarmos nessa área estratégica para o desenvolvimento do país, precisamos descortinar novos caminhos e estratégias.
Há alguns poucos exemplos de sucesso em outros países que poderiam servir de inspiração. Um deles é o de que é preciso começar do alicerce para o telhado —e não vice-versa. Os pilares são conhecidos: um currículo robusto, professores de alto nível, um sistema de avaliação confiável e mecanismos de financiamento que estimulem a eficiência e a qualidade. O outro é que não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. É preciso estabelecer prioridades, lograr sucessos e avançar a partir deles. O terceiro é a necessidade de estabelecer políticas em dois tempos —uma para lidar com as circunstâncias do presente e outra para preparar o terreno para o futuro.
Para lidar com o presente existem estratégias conhecidas, mas muito diferentes das preconizadas no arsenal do “grande consenso”. Para lidar com o futuro, o caminho mais promissor parece ser o de estimular experimentos localizados, capazes de atrair e formar uma nova geração de professores, recrutados entre os melhores alunos de cada geração e vinculados a escolas onde a educação funciona para valer —e para todos. Nada disso precisa de leis ou de revoluções. Basta copiar e adaptar o que já deu certo onde a educação dá certo.