A Neurociência e a Leitura: Como o Cérebro Aprende a Ler
Antes de tudo, a neurociência revela que o simples ato de ler transforma profundamente o cérebro humano. O matemático e neurocientista francês Stanislas Dehaene dedica-se a entender essas transformações e como elas podem otimizar os métodos de alfabetização. Em seu livro Os Neurônios da Leitura , ele demonstra como o conhecimento sobre o impacto da leitura no cérebro oferece soluções eficazes, especialmente para crianças e pessoas com dislexia. Além disso, Dehaene critica a pedagogia construtivista, muito utilizada no Brasil, afirmando que ela pode ser ineficaz no ensino da leitura.
Como a Leitura Molda o Cérebro Humano
Primeiramente, Dehaene e sua equipe especificamente que o cérebro humano adapta os neurônios, originalmente usados para refletir objetos e rostos, para decodificar a linguagem escrita. Em outras palavras, a leitura “recicla” neurônios que desempenhavam outras funções. Essa adaptação permitiu que o cérebro, que não evoluiu naturalmente para a leitura, se ajustasse aos símbolos da escrita.
Além disso, Dehaene relatou que o cérebro utiliza a mesma região para analisar a leitura, independentemente do idioma, seja inglês, português ou chinês. Esse processo de adaptação aprimorou a capacidade de compreender diferenças sutis e aumentou a habilidade de memorização, mostrando a importância da leitura no desenvolvimento cognitivo.
A Reorganização do Cérebro Durante a Alfabetização
Antes que o cérebro aprenda a ler, ele dedica uma região maior ao reconhecimento de rostos e formas. No entanto, após a alfabetização, o cérebro redistribui essa função para dar espaço à decodificação da linguagem. Essa reorganização permite que pessoas alfabetizadas usem menos neurônios para funções visuais e mais para a leitura. De acordo com Dehaene, o cérebro cria esse “espaço” sem perder outras habilidades, o que explica por que a leitura exige um processo adaptativo tão sofisticado.
Métodos de Alfabetização e Desempenho do Cérebro
Ainda mais importante, Dehaene destaca que as evidências científicas indicam a eficácia do método fônico, que ensina a correspondência entre letras e sons. Crianças alfabetizadas por esse método aprendem a ler de forma mais rápida e eficiente. Em contrapartida, o método global — que começa pelo significado das palavras antes de abordar as letras — mostrou-se ineficaz, pois regiões ativas que dificultam a decodificação rápida dos símbolos.
Ao contrário do método fônico, o método global ativo primeiro o lado direito do cérebro, enquanto a decodificação ocorre no lado esquerdo. Esse processo indiretamente atrasa a leitura, dificultando a fluência e a compreensão do texto. Em contrapartida, o método fônico treina diretamente o lado esquerdo do cérebro, o que facilita o aprendizado, acelera a leitura e melhora a compreensão.
Alfabetização, Interpretação e o Cérebro dos Analfabetos Funcionais
Antes de tudo, a automatização da leitura é crucial para a interpretação eficaz dos textos. Dehaene explica que a dificuldade de interpretação, comum entre analfabetos funcionais, ocorre porque eles não automatizaram a leitura. Quando a decodificação exige esforço, ela consome atenção e impede o leitor de focar no significado do texto. Portanto, a prática regular de leitura na infância é essencial para tornar o processo automático e facilitar a interpretação de textos.
O Efeito da Música no Desenvolvimento Cognitivo
Assim como a leitura, o aprendizado da música também estimula o desenvolvimento do cérebro. Segundo Dehaene, embora as áreas específicas para leitura e música não sejam idênticas, a prática musical melhora a concentração e aumenta o QI. Dessa forma, ele sugere que a música é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento cognitivo, especialmente em crianças.
Tratamento da Dislexia com Base na Neurociência
De acordo com Dehaene, a neurociência também oferece novos métodos para o tratamento da dislexia. A dislexia envolve dificuldades em conectar letras aos sons correspondentes, prejudicando a compreensão da linguagem. Jogos de rima e atividades que manipulam sílabas ajudam a fortalecer essa conexão fonológica e facilitam a alfabetização de crianças disléxicas. Estudos de imagem mostram que essas atividades ativam áreas altamente subutilizadas, aumentando as chances de superação da dislexia.
Potenciais Habilidades do Cérebro Disléxico
Finalmente, Dehaene explora a possibilidade de que o cérebro disléxico desenvolva habilidades específicas. Embora as pesquisas estejam em estágio inicial, estudos sugerem que os disléxicos podem ter um senso de simetria mais apurado, o que beneficia o aprendizado de matemática. Esse potencial indica que, embora a dislexia apresente desafios, ela também pode favorecer o desenvolvimento de outras habilidades.
Leitura: A Base para o Conhecimento Avançado
Em síntese, Dehaene conclui que a leitura transforma o cérebro e é essencial para o aprendizado em áreas mais complexas. Embora habilidades matemáticas básicas possam ser desenvolvidas sem a leitura, ele argumenta que o progresso avançado em matemática e outras disciplinas depende da capacidade de interpretação de informações complexas. Assim, a leitura confirma-se como uma habilidade essencial para o desenvolvimento do potencial humano em diversas áreas.