Ler para os filhos não só aumenta a capacidade cognitiva das crianças, mas também reduz o mau comportamento, segundo um estudo realizado pela Universidade de Nova York (NYU) em parceria com o Instituto Alfa e Beto (IAB) e o IDados. De acordo com a pesquisa, a prática de ler para os filhos pode incrementar o vocabulário das crianças em 14%, aumentar a memória de trabalho em 27% e elevar em 25% o índice de crianças sem problemas de comportamento. Além disso, os resultados parciais do estudo serão apresentados nesta quarta-feira, no Congresso Nacional, durante uma audiência pública.
Metodologia e Resultados
A pesquisa envolveu 1.250 responsáveis e 1.250 crianças no município de Boa Vista, em Roraima. A administração municipal, em parceria com o IAB, desenvolve o programa “Família que Acolhe”, promovendo políticas públicas voltadas para a primeira infância, integrando áreas como saúde, assistência social e educação.
João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, destaca que as diferenças nas crianças que leem com os pais são impressionantes. Tanto do ponto de vista do vocabulário quanto dos aspectos cognitivos da memória e comportamentais. Essa prática reduz a violência e o tratamento brusco em relação à criança. Além disso, os responsáveis aprendem a discutir as questões e ganham mais ferramentas além da punição física.
O relatório também aponta um melhor desenvolvimento fonológico das crianças, auxiliando na alfabetização e resultando em menos punição física por parte dos pais, que aprendem a conversar com os filhos e a buscar novas maneiras de resolver os conflitos.
Grupos de Estudo e Análise de Resultados
Alan Mendelsohn e Adriana Weisleder, ambos da NYU, conduziram o estudo com três grupos durante um ano. No primeiro grupo, além do atendimento normal das creches municipais (“Casas-mãe”), os pais recebiam capacitação em habilidades de leitura e interação com as crianças. Eles praticavam exercícios para aprender como conversar e interagir com os filhos, com as atividades sendo filmadas para análise posterior.
O segundo grupo era composto por pais que recebiam apenas o atendimento convencional das “Casas-mãe” e tinham contato com a leitura no ambiente escolar. Enquanto isso, o terceiro grupo consistia em famílias que ainda estavam na lista de espera da creche.
Segundo João Batista, sabe-se que ler para a criança é benéfico e que a leitura interativa faz bem. O que o programa acrescenta é um treinamento que envolve sessões interativas com os pais. Eles se veem no vídeo e aprendem a analisá-lo. Além disso, quando comparamos o grupo que fez nove sessões e levou livros para ler em casa com os demais, as diferenças são impressionantes.
Sessões Interativas e Depoimentos de Pais
Profissionais treinados pelo IAB orientam os pais a interagir com as crianças durante as sessões de leitura realizadas em grupo a cada três semanas. Além de ler durante as sessões, os pais também levam livros para casa.
Daniella Santos, uma das mães participantes, notou uma grande diferença no comportamento dos filhos após a inserção da leitura diária conduzida por ela e pelo marido. Seu filho Gabriel, de 2 anos, que antes era inquieto, agora se interessa pela atividade e consegue se concentrar nas histórias. Ele também perdeu o medo do banho, que o fazia chorar.
Daniella relata que Gabriel era um pouco mais rebelde e não gostava de sentar para leitura. Descobriu que precisavam de uma rotina. Agora ele já pede para ler. Na creche, ele tinha receio de ir para o banho, mas ela começou a inserir essa questão nas histórias e agora ele não chora mais. Percebeu uma independência muito maior nele.
Ela também é mãe de Melina, de 3 anos, que já conhece vogais, cores primárias, consoantes e números de 1 a 10, graças à leitura.
Em resumo, a prática de ler para os filhos mostra-se extremamente benéfica para o desenvolvimento cognitivo e comportamental das crianças, promovendo uma educação mais rica e uma convivência familiar mais harmoniosa.
Fonte: O Globo.