Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal Diário de Pernambuco
Fui convidado a refletir a respeito do papel dos empresários em relação à educação. Não se trata de privatizar a educação, trata-se de saber qual o seu papel, se o estão cumprindo, se está dando resultado e, se positivo, por que eles ainda reclamam tanto de que as pessoas que chegam para trabalhar não estão preparadas.
Há várias formas de participação dos empresários na educação: ações diretas, voltadas ou não para locais e interesses imediatos das empresas; doações, trabalho voluntário e parcerias de vários tipos, como as do Instituto Constelação; iniciativas como a do ICE- Instituto de Co-responsabilidade Empresarial – que viabiliza formas economicamente viáveis de provisão de ensino médio de qualidade. Há também o trabalho feito pelas entidades do Sistema S – o Brasil acaba de ganhar o primeiro lugar da Workskills realizada em São Paulo. E há o treinamento e desenvolvimento de pessoal realizado pelas próprias empresas.
Mas isso não está resolvendo o problema da educação, nem particularmente assegurando mão de obra qualificada para fazer o país crescer. Vejamos por quê. O desenvolvimento econômico depende da produtividade. Esta pode ser aumentada pela dosagem adequada entre investimentos em capital físico e infraestrutura, tecnologia e recursos humanos. Na sociedade do conhecimento o investimento adequado em recursos humanos é o que dá melhores rendimentos.
Vejamos como anda a produtividade. No Brasil ela está praticamente estacionária – e nossa população está envelhecendo e o crescimento está se estagnando. Comparação com os Estados Unidos: nos últimos vinte anos, dois terços do crescimento da produtividade norte-americana se deveu ao aumento da produtividade dos recursos humanos.
Os empresários são realistas. Ao invés de chorar o leite derramado eles adequam seus investimentos e tecnologias à mão de obra disponível – ou a trazem de fora, como no caso da construção de Suape. Mas há um armadilha nessa acomodação – e isso é conhecido pelo nome de “armadilha das baixas habilidades”: o setor produtivo se ajusta à qualidade da mão de obra disponível, mas num nível mais baixo de sofisticação tecnológica. Não é a toa que o grosso da exportação brasileira é constituído de produtos agrícolas e outros de baixo valor agregado.
Empresários reclamam: os que chegam para trabalhar não estão preparados. Mas se recusam a admitir pessoas sem experiência, seduzem pessoal qualificado dos concorrentes inflacionando salários e investem muito pouco em treinamento. Educadores afirmam que sua função não é preparar mão de obra e sim, cidadãos conscientes e críticos. Há convergências possíveis? É este o debate que precisa ser travado – educação e produtividade são como gêmeas siamesas, unidas para sempre.