Em artigo escrito pelo presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araujo e Oliveira, para a Revista Academia Paulista de Educação (11/2016), o professor fala sobre a formação dos professores no Brasil e faz comparações com os países desenvolvidos a respeito do nível intelectual das pessoas que optam pela formação de magistério.
O que temos falado e feito a respeito de “formação de professores” certamente não tem ajudado nem a melhorar o nível dos professores nem o desempenho dos alunos em nosso país. Para avançar, precisamos entender a questão da “formação” dentro de um contexto mais amplo. Para simplificar a conversa, tratamos aqui do professor situado no centro do processo ensino-aprendizagem no contexto da escola e sala de aula como a conhecemos – sem, com isso, limitar sua possibilidade de valer-se de uma enorme gama de recursos, inclusive tecnológicos. Não abordamos aqui, portanto, outras formas de organização da aprendizagem que prescindem do modelo escolar, da estrutura da sala de aula ou mesmo do professor – pelo menos tal como concebido até este momento da história.
Os resultados dos alunos brasileiros em testes nacionais e internacionais revelam um fato grave: o nível de aprendizagem é muito baixo, e isso também ocorre em alunos provenientes de famílias de nível socioeconômico mais baixo. A proporção de alunos brasileiros que atingem os níveis mais elevados no Pisa em relação à população escolar é vergonhosamente inferior a de qualquer país desenvolvido. Nosso desempenho é ruim na média e nos limites inferiores e superiores da distribuição. Portanto, na medida em que o ensino existe para facilitar a aprendizagem, a conclusão possível é a de que o Brasil tem um problema de ensino – independentemente do problema dos alunos. Ensinamos pouco e ensinamos mal. Isso não significa que a causa ou culpa seja exclusiva dos professores. Mas significa que nem a escola nem eles não estão sendo capazes de cumprir o seu papel.
O que nos diferencia dos países desenvolvidos? A maior diferença resulta no nível intelectual das pessoas que procuram a carreira do magistério. Nos países europeus e na maioria dos países membros da OCDE apenas 30 a 50% dos egressos do ensino médio – que é muito mais rigoroso do que o nosso – têm acesso a universidades. Portanto, tipicamente professores são recrutados entre os 30% melhores alunos do ensino médio. Ainda que eles fossem os menos qualificados dentre esses 30% que vão para o ensino superior, estamos falando de uma elite intelectual. Em alguns países, como Cingapura e Finlândia, eles são recrutados entre os 5% melhores. Este é o ponto de partida, e não adianta tratar de outras questões enquanto não conseguirmos atrair jovens bem preparados para o magistério.Focar a discussão na formação é equívoco e não leva a nada.
Temos um segundo problema: o currículo dos vários cursos de formação de professores é totalmente inadequado, e o ENADE emite sinais equivocados. Os professores dos cursos de formação de professores, em sua expressiva maioria, nunca deram aula para os níveis de ensino para os quais formam seus alunos – em parte devido à estrutura das carreiras universitárias. Esses problemas são mais fáceis de resolver – embora requeiram uma revolução típica que exige literalmente a troca de cabeças. As que hoje pensam sobre esses problemas, especialmente nas universidades, pararam no tempo.
E há um terceiro problema: o sucesso de uma profissão como a de professor repousa em bons processos de indução, entrar na profissão pelas mãos de professores experientes, bem sucedidos. O Brasil carece desses “modelos” e levará algum tempo até que os tenhamos em quantidade suficiente para orientar os futuros professores.
Dos três desafios, o primeiro é o maior, e só avançaremos quando conseguirmos equacionar de maneira adequada o recrutamento de jovens talentosos para o magistério. Nada indica que o país ainda esteja disposto a enfrentar essa questão.