Na última semana, perguntamos aos professores que acompanham o Instituto Alfa e Beto nas redes sociais qual o maior desafio da profissão. Diante de todos os problemas passíveis de citação, a grande maioria apontou para a conturbada relação entre a escola e a família, tema que já foi alvo de muitos estudos e pesquisas. Mas, afinal, quanto a família pode contribuir para ajudar na vida escolar de seus alunos? Que ações os pais podem tomar que vão impactar na sala de aula e como a escola pode ajudar os pais a ajudarem seus filhos?
Os resultados das pesquisas sobre o tema nem sempre confirmam o senso comum. Os efeitos do acompanhamento familiar na escola variam a médio e longo prazo. E não só isso, variam também de acordo com a faixa etária dos estudantes e com o tipo de envolvimento dos pais. Nos primeiros anos de vida, por exemplo, é importante que os pais criem vínculos com seus filhos e despertem neles o gosto pela leitura. Nas séries iniciais, é importante oferecer suporte para que as crianças se organizem e respondam às exigências da escola. (Veja mais orientações abaixo).
Importantes evidências mostram que atividades escolares que buscam engajar os pais na rotina da escola, como campanhas para pintura dos muros ou participação ativa na Associação de Pais e Mestres (APMs), podem ter menor impacto no desempenho escolar dos estudantes do que o simples acompanhamento do dever de casa. Vale lembrar que tais ações de engajamento podem até ajudar a construir e reforçar a relação de confiança entre escola e famílias, mas para ter impacto significativo no aprendizado não basta ir à escola. O desafio está dentro de casa – e é grande.
Por isso, é importante ajudar os pais no despertar da percepção de que eles são peças fundamentais na educação de seus filhos. A escola pode auxiliar nessa direção, esclarecendo como o apoio dentro de casa pode ser garantido. Uma das atitudes que comprovadamente faz a diferença em qualquer faixa etária é o incentivo constante à leitura.
Um estudo publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) feito com base na nota dos alunos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) aponta que, entre alunos de 15 anos de idade, as melhores médias no exame pertenciam aqueles cujos pais desenvolveram o hábito de ler para eles (e com eles) em casa, todos os dias ou quase todos os dias. Filhos de pais que têm essa atitude conseguiram 25 pontos a mais no exame, que mede os níveis de proficiência em ciências, leitura e matemática. Outra atitude simples e eficiente que a pesquisa da OCDE revela é a conversa. Filhos de pais que conversavam com eles sobre temas políticos ou sociais obtiveram 28 pontos a mais no exame do PISA do que estudantes que não participavam desse tipo de debate no âmbito familiar.
Incentivar as crianças também é uma medida que impacta no resultado escolar independente da faixa etária, apontam os estudos. Estudo realizado pela psicóloga americana Carol Dweck, da Universidade Stanford, com 500 crianças de uma escola de Nova York mostrou que o elogio ao esforço dos estudantes – e não a sua inteligência – dava resultados positivos no seu desempenho escolar. Por isso, uma das principais recomendações para os pais é exigir o máximo esforço possível em relação a escola, sem desencorajar e sem passar dos limites – e elogiá-lo por esse esforço, e não pelo talento nato ou pela inteligência.
Confira a seguir uma lista do que cada uma das partes – pais e professores – podem fazer para promover uma relação que impacte, de fato, na aprendizagem das crianças.
Como pais podem ajudar os filhos (orientações divididas por faixa etária)
0 a 6 anos de idade
- Criar o hábito e gosto pela leitura desde cedo.
- Conversar, brincar e interagir com a criança.
- Ajudar a criança a desenvolver o autocontrole, a atenção, a se autorregular, a entender e respeitar os limites.
- Desenvolver elevadas expectativas e encorajar a criança a ser curiosa e a explorar o mundo.
6 a 10 anos de idade
- Desenvolver elevadas expectativas e encorajar a criança a enfrentar os desafios da escola.
- Manter o hábito de leitura e conversa em casa.
- Ajudar a criança a se organizar e a responder às exigências e deveres da escola (pontualidade, disciplina, assiduidade, cumprimento dos deveres, respeito aos colegas e professores).
- Não adotar uma atitude punitiva em relação aos fracassos da criança na escola ou em relação aos deveres. Acompanhar e estimular, ao invés de cobrar e punir.
10 aos 17 anos de idade
- Desenvolver elevadas expectativas e ajudar o jovem a enfrentar os desafios da adolescência sem esquecer os desafios da escola.
- Ajudar os filhos a desenvolverem aspirações elevadas.
- Conversar e estimular a conversa em família sobre eventos do cotidiano e do mundo.
Como escola pode ajudar os pais a ajudarem seus filhos
- Ajudar os pais a desenvolverem expectativas elevadas sobre seus filhos.
- Ajudar os pais a entenderem a “linguagem da escola” e usar uma forma de relacionamento respeitosa, adaptando sua linguagem à capacidade de compreensão dos pais – e não o oposto.
- Explicitar o programa de ensino, regras, regimentos e normas da escola, inclusive com respeito à frequência, pontualidade e dever de casa.