*Artigo de João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto
O Brasil é um país retardatário: começamos a tratar da educação pelo menos duzentos anos depois que o assunto já era realidade na maioria dos países do Ocidente e quase um século depois da Revolução Meiji, no Japão.
Na década de 1930, tomamos consciência e demos os primeiros passos formais; na década de 1950 começaram os movimentos sociais de pressão; e, a partir da década de 1960, deu-se a expansão desenfreada, com poucos focos de excelência.
Nos anos 1970, começamos a ter os primeiros dados mais confiáveis produzidos pelo IBGE, e surgiram alguns estudos empíricos importantes – o de Langoni sobre educação e renda, os dos Estudos de Integração Econômica Latino-americana (ECIEL), dirigidos por Cláudio de Moura Castro, sobre determinantes do desempenho escolar e, na década de 1980, os estudos de Flechter, Sérgio Costa Ribeiro e Ruben Klein sobre evasão, repetência e fluxo escolar.
Na década de 1990, houve um grande avanço com a implementação de avaliações externas, começando em Minas Gerais e depois pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o INEP. Também se inicia a consolidação, no INEP, do Censo Escolar. Na virada do século, aderimos ao Programme for International Student Assessment (Pisa). Aos poucos, vamos constituindo uma base de dados a partir da qual começa a se desenvolver uma cultura de avaliação.
Na área de pesquisas, a evolução é bem mais lenta. Há estudos rigorosos e robustos de alguns poucos economistas que se dedicam à educação – e que levam em conta a evidência e utilizam metodologias rigorosas. Há poucos estudos rigorosos feitos pelos psicólogos brasileiros que estudam o desenvolvimento, a aprendizagem e o ensino; e os educadores, em sua grande maioria, não produzem estudos e pesquisas que se possam qualificar como científicas ou rigorosos: predomina o peso da autoridade de autores falecidos e a preferência por teorias não comprovadas. É muito forte o peso da ideologia e a fragilidade metodológica.
No âmbito das secretarias de educação – estaduais e municipais – também é incipiente e frágil o uso de dados para fins de planejamento e tomada de decisões. Isso se deve, em parte, à falta de pessoal qualificado para entender e usar dados, à falta de espaço institucional para promover debates, ao peso exercido pelas interpretações da realidade e propostas do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e também à falta de uma cultura e cobrança de resultados. Basta observar o reduzido impacto das reiteradas rodadas da Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) sobre a melhoria dos resultados para verificar o quão pouco está instalada uma cultura de gestão baseada em dados.
No momento em que redijo esta nota, o MEC acaba de lançar um edital para que as escolas apresentem projetos “inovadores” em cinco áreas bem definidas. O que chama a atenção é que o MEC não pergunta se a inovação tem eficácia comprovada – o importante é inovar dentro de definições ideológicas estabelecidas pela autoridade central.
É para ajudar o Brasil a mudar de rota que criamos o Instituto Alfa e Beto. Neste especial, apresentamos três aspectos do nosso trabalho de promover uma educação baseada em evidências.
Um deles são as práticas adotadas pelas redes de ensino que participam de nossos programas – seja nas secretarias, escolas e salas de aula, em que apresentamos exemplos do uso de evidências para a tomada de decisões, nos diferentes níveis. O sistema de informações gerenciais do Instituto Alfa e Beto se concentra em três indicadores ou sinais vitais: frequência, andamento do programa de ensino e resultados dos alunos. Aqui, apresentamos depoimentos sobre como isso vem ajudando a criar uma cultura de gestão baseada em dados.
A outra contribuição do Instituto Alfa e Beto, cuja tradição se atualiza a cada ano, consiste na realização de seminários internacionais, nos quais analisamos a evidência sobre aspectos importantes da prática educativa. A cada ano tratamos de um tema – em nosso IX seminário tratamos das próprias evidências. O resultado é o livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em Educação. O livro mereceu um generoso prefácio de Cláudia Costin, Diretora de Educação do Banco Mundial e tem como um de seus coautores o Dr. Gregory Elacqua, que atualmente ocupa o cargo de economista-chefe do setor de políticas sociais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Cabe registrar que o reconhecimento internacional do trabalho do Instituto Alfa e Beto é mais amplo e generoso daquele que recebemos em nossa própria pátria. Isso se explica exatamente pela falta de cultura científica, respeito às evidências e falta de gosto pelo debate e confronto de ideias.
Para atacar essa última questão o Instituto Alfa e Beto criou uma nova frente de atuação, o IDados, cuja missão é transformar dados em informações e divulgá-los numa linguagem técnica o suficiente para atrair a atenção e respeito dos pesquisadores mais rigorosos, mas clara e provocativa o suficiente para atrair a atenção da mídia, dos formadores de opinião e especialmente do setor empresarial, que depende de uma educação de qualidade para aumentar a produtividade e se manter competitivos na sociedade do conhecimento. Neste exemplar, apresentamos o IDados e seu primeiro produto, o Boletim IDados da Educação.
Junte-a a nós. Venha discutir a educação. De forma inteligente. Com base em dados. Com base nas evidências.
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