Evasão é solução? Uma reflexão crítica sobre o ensino superior público
Investimento desigual entre educação básica e ensino superior
Primeiramente, é preciso destacar uma realidade preocupante: o Brasil investe muito mais em um aluno do ensino superior público do que na educação básica. Conforme relatórios da OCDE, o custo anual é de 15 mil dólares por aluno no ensino superior, enquanto na educação básica esse valor é de 3.500 dólares. Ou seja, o país gasta mais que a Alemanha em ensino superior e, ao mesmo tempo, investe apenas a metade do que o Chile destina à educação básica.
A evasão no ensino superior amplia o desperdício
Ainda assim, o problema se agrava ao analisarmos o custo real por aluno formado. Quando corrigimos os números para incluir os altos índices de evasão, esse custo pode ser até dez vezes maior em alguns cursos. Em outras palavras, chegamos a um cenário surreal de 150 mil dólares por aluno formado por ano.
Por exemplo, no curso de Física da Universidade de São Paulo (USP), referência como a melhor universidade da América Latina, os números falam por si. Dos 120 ingressantes em 2018, apenas 12 concluíram a graduação em 2022. Em suma, a evasão alcançou inacreditáveis 90%.
A visão equivocada de “evasão como solução”
Apesar disso, há professores que defendem a evasão como uma “solução” para alunos cotistas e de baixa renda. Eles argumentam que esses estudantes exigem mais atenção devido às falhas na educação básica pública. Contudo, essa postura revela o quão disfuncional é o sistema educacional brasileiro: concentra recursos no ensino superior e penaliza justamente os que mais precisam de apoio.
Analogamente, muitos desses alunos acabam abandonando o curso porque encontram barreiras instransponíveis, como disciplinas pré-requisito ministradas por professores despreparados para lidar com realidades diversas. Basta um único professor relapso para impedir um estudante de prosseguir em sua formação.
O papel da USP e dos bons professores
Por outro lado, essa visão não reflete uma política institucional da USP. Ainda assim, a reitoria e os professores comprometidos com o ensino de qualidade deveriam se indignar e buscar soluções. Afinal, identificar e eliminar esse tipo de comportamento é fundamental para reduzir os índices de evasão.
A solução está nos próprios alunos
Por fim, deixo aqui uma sugestão simples, barata e eficiente: perguntem aos alunos. Eles sabem quem são os profissionais que abandonam suas responsabilidades. Mais do que ninguém, os estudantes podem ajudar a reitoria a identificar e corrigir essas falhas no sistema.
O desafio de um ensino superior mais justo
Em síntese, o Brasil não pode se dar ao luxo de desperdiçar recursos em evasão, especialmente enquanto a educação básica sofre com falta de investimento. É preciso, acima de tudo, garantir que o ensino superior cumpra seu papel e ofereça oportunidades reais de formação para todos os estudantes.
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