Apesar de ser um componente central língua, tanto escrita quanto falada, a gramática tem sido cada vez menos ensinada aos alunos e seus professores. Muito disso se deve a uma ideia propagada na década de 1960, primeiro na Inglaterra e Estados Unidos e com reflexos também no Brasil, de que as escolas não deveriam ensinar gramática, defendendo, em seu lugar, uma ideia de ensino da língua como instrumento de crescimento pessoal.
Cerca de 20 anos depois, um documento assinado por pesquisadores ingleses mostrava que, na realidade, a referência gramatical fornece um tipo de agilidade na escrita que ajuda o escritor a evitar frases demasiadas longas e inconclusivas. Desde então, tem sido crescente o pensamento, entre pesquisadores e especialistas, de que seu ensino nas escolas representa um potencial incalculável, especialmente se for ministrado de uma forma que reflita os usos contemporâneos da língua.
Essa mudança no pensamento científico é relatada no livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências, publicação do Instituto Alfa e Beto produzida pelo pesquisador e professor inglês Roger Beard a partir de sua participação no VIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto. No livro, Beard revela como as evidências têm mostrado que a gramática se faz imprescindível e deve ser trabalhada em conjunto com a alfabetização. Beard ainda afirma que atualmente os principais questionamentos sobre esse ensino estão mais preocupados com o “o quê?” e, especialmente, o “como?” ensinar.
O livro traz ainda recomendações de como ensinar as crianças a trabalhar com pontuação; como avançar na escrita, passando de frases simples para frases complexas; e como estimular os alunos a aprimorar o texto através da releitura.
Segundo Beard, linguistas britânicos sugerem algumas técnicas simples para ajudar os alunos a aumentar a sua consciência a respeito da variação sintática. De acordo com o especialista, essas estratégias de ensino são eficazes porque não estão centradas em fazer o aluno decorar regras e classes gramaticais, mas sim em compreender a função gramatical de palavras em cada contexto. As técnicas são abordadas com mais detalhes e exemplos no terceiro capítulo do livro (a partir da página 116). Abaixo, mostramos uma das técnicas apresentadas, chamada pelo autor de “combinação de frases”. Confira:
Há possibilidades que podem ser usadas como oportunidades para gerar interesse em discutir regras gramaticais. Trata-se da estratégia de combinar frases. As evidências sobre o uso dessa técnica sugerem que elas ajudam a desenvolver a competência da escrita, bem como fornecem insights sobre a estrutura gramatical. Em cada um dos exemplos abaixo, a primeira frase é a forma como o problema é apresentado ao aluno; a segunda frase é uma resposta aceitável.