Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.
Uma coisa é ter uma capacidade – como a inteligência. Outra coisa é usá-la. Nem só de QI vive o homem. Neste post da série QI: Desvendando a Inteligência trataremos de um conjunto de fatores que está relacionado com o uso de inteligência e com a aprendizagem de outras habilidades que concorrem para o ajustamento ou sucesso na escola e na vida: o controle executivo.
A metáfora mais simples para entender o que é controle executivo é a de um sistema de controle de voo num grande aeroporto: é preciso monitorar várias informações para permitir pousos e decolagens seguras. São poucas pistas de aterrissagem, muitos aviões, com velocidades diferentes, voando em distâncias e altitudes diferentes, dispondo de diferente quantidade de combustível, ventos mudando de posição, condições variáveis de visibilidade. Tudo isso supondo que os pilotos – automáticos ou não – estão em pleno uso de suas faculdades e funções.
Controle executivo é isso. É a capacidade de controlar nossas respostas diante das diferentes demandas de nosso organismo (necessidades, desejos, motivações) e os estímulos ou tentações do ambiente externo (chocolate, sofá macio, deveres de casa, tarefas do trabalho, namorar ou estudar, economizar ou gastar etc.). Para uma criança, um desafio do controle executivo é aprender a conter o braço para não tomar o brinquedo da outra criança ou não revidar um empurrão com um xingamento ou uma mordida dolorida .
O controle executivo está associado a uma série de mecanismos intimamente ligados ao desenvolvimento cognitivo e socioemocional. No caso do desenvolvimento cognitivo, um dos aspectos mais importantes é a memória – um dos fatores mais característicos da inteligência. A capacidade de lembrar-se de algo, mobilizar essa informação de forma rápida e processá-la de forma adequada é condição necessária para planejar e controlar (o que vem primeiro, o que vem depois).
O outro mecanismo associado à memória é a capacidade de inibição: primeiro faço isso (exemplo: esperar a vez para entrar no balanço) depois aquilo (exemplo: se eu não tomar o balanço dela “na marra” e esperar minha vez, vou ganhar sorvete).
O terceiro aspecto, associado aos outros dois, é a capacidade de adiar a gratificação: se eu sou capaz de fazer primeiro os deveres para depois ir brincar, eu tenho mais chance de me dar bem na escola – e na vida. Pesquisas sólidas15 mostram que as crianças que preferem ganhar dois doces depois de esperar 15 minutos ao invés de ganhar apenas um imediatamente são aquelas que terão melhores resultados na escola e na vida. Algo tão simples, e que revela habilidades tão profundas.
Habilidades relacionadas com o controle executivo estão fortemente associadas ao uso das capacidades cognitivas. Elas não alteram o QI, mas afetam a forma de seu uso. E, como diz o ditado, é de pequenino que se torce o pepino. Os primeiros anos de vida constituem o momento mais adequado para desenvolver essas habilidades.
*Referência bibliográfica:
15O teste do marshmallow (que é um tipo de doce) foi realizado por Mischel com base em testes de deferimento de gratificação iniciados na década de 50, e que constituíram um marco no estudo dos aspectos não cognitivos do comportamento. A referência ao estudo original é:
- Mischel, Walter; Ebbe B. Ebbesen, Antonette Raskoff Zeiss (1972). “Cognitive and attentional mechanisms in delay of gratification“.Journal of Personality and Social Psychology.
Na próxima semana…
Como é possível medir o QI? Como são elaborados esses testes e como analisar seus resultados? Leia no próximo capítulo. |