Escolas-Modelo: Uma Ilusão na Educação Brasileira
Por décadas, governos estaduais, municipais e federais elevaram seus modelos de escolas como símbolos de excelência. Contudo, João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, acredita que essas escolas representam um problema e não um motivo de orgulho. Ele argumenta que o modelo de escolas são propostas em um sistema educacional onde a maioria das escolas públicas permanece em condições insatisfatórias. Para incentivos a melhorias em toda a rede, Oliveira criou, em parceria com a Gávea Investimentos e a Fundação Lemann, o Prêmio Prefeito Nota 10 , que premiará prefeitos com R$ 200.000,00 pela qualidade da rede de ensino em suas cidades, medida pela Prova Brasil .
Análise dos Resultados da Prova Brasil
Antes de mais nada, Oliveira observa que o Ministério da Educação (MEC) divulgou os resultados da Prova Brasil com entusiasmo, mas sem motivo. Ele explica que, ao examinar os dados ao longo do tempo, percebe-se uma estagnação na qualidade do ensino. Embora os investimentos e programas educacionais tenham aumentado, os resultados práticos ainda não mostram progresso consistente. Oliveira sugere que essa estagnação pode ser atribuída à execução restrita dos programas ou à irrelevância deles.
Ingredientes para uma Reforma Educacional Eficaz
Oliveira afirma que uma reforma educacional eficaz precisa de medidas bem fundamentadas, sem inovações excessivas. Em primeiro lugar, ele destaca a importância de atrair bons profissionais para o magistério, pois a qualidade do ensino depende diretamente dos professores. Além disso, ele enfatiza a necessidade de uma gestão eficiente, que garanta equidade no desempenho entre as escolas de uma mesma rede.
Outro ingrediente crucial é a implementação de um programa de ensino estruturado. Atualmente, muitas escolas possuem apenas ofertas de vagas, sem um currículo claro e detalhado. Oliveira acrescenta que um sistema de avaliação sólido e um programa de premiação e isenção são igualmente essenciais. Ele critica o fato de que, hoje, apenas os alunos são penalizados, enquanto professores e gestores não enfrentam consequências por resultados insatisfatórios.
Os Exemplos de Sucesso na Educação Municipal
Oliveira confirma que alguns municípios estão se destacando na educação, como Sobral, no Ceará, e algumas cidades em São Paulo e Minas Gerais. Esses locais seguem uma estratégia que foca na estruturação do ensino e em práticas que realmente fazem diferença. No entanto, ele observa que esses avanços ainda se limitam às séries iniciais do ensino fundamental.
O Problema das Escolas-Modelo
O grande problema das escolas-modelo, segundo Oliveira, é que elas não representam o sistema como um todo. Embora existam algumas boas escolas espalhadas pelo país, ele argumenta que apenas uma rede educacional coesa, onde todas as unidades oferecem o mesmo nível de ensino, pode realmente mudar o cenário educacional brasileiro. Oliveira acredita que focar em poucas escolas especializadas não promove a democratização do ensino.
A Dificuldade de Expandir a Qualidade para Toda a Rede
Oliveira explica que o Brasil tende a priorizar iniciativas acessórias, como atividades complementares e estéticas, em vez de focar na estrutura educacional. Ele critica a tendência de adotar práticas estrangeiras de maneira superficial, sem observar os aspectos essenciais desses sistemas. Segundo ele, a verdadeira solução exige gestores preparados, que saibam planejados e priorizem o que realmente importa na educação.
O Uso da Tecnologia na Educação e Suas Limitações
O recente anúncio do MEC sobre a distribuição de tablets para professores ilustra, para Oliveira, o problema da “tecnologia sem contexto”. Ele admite que a tecnologia pode ser útil, mas apenas quando integrada a um sistema bem planejado. No Brasil, a tecnologia tende a beneficiar apenas os bons professores, sem impacto significativo na educação como um todo.
O Que o Brasil Pode Aprender de Outros Países
Oliveira observa que países como Coreia do Sul, China e Chile estão melhorando seus sistemas de ensino adotando medidas de forma gradual e em etapas. Ele destaca que esses países investiram primeiro no ensino primário e, posteriormente, em outras etapas. Além disso, eles desenvolveram condições fundamentais para o sucesso, como formação rigorosa para professores e currículos estruturados.
A Realidade do Ensino Público Brasileiro
Quando questionado sobre a situação do ensino público no Brasil, Oliveira é enfático: ele considera o sistema um “desastre” para as crianças pobres, que dependem da educação pública como única chance de mobilidade social. Ele critica a falta de qualidade nas escolas e os altos índices de evasão, especialmente no ensino médio, onde a falta de um modelo de justiça de ensino acaba prejudicando os jovens em uma fase crucial de suas vidas.
A Crise do Enem e a Falta de Foco
Para Oliveira, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) perdeu seu propósito original e não cumpre mais sua função de avaliação. Ele criticou o formato atual do Enem, que busca atender a duas funções distintas — avaliação de competências e seleção universitária — e acaba não atendendo nenhuma delas de maneira garantida.
Soluções para Melhorar o Ensino Médio
Oliveira acredita que o Brasil precisa atender melhor às demandas do mercado de trabalho com uma formação técnica externa para a maioria dos estudantes do ensino médio. Ele argumenta que o foco em um currículo acadêmico universal prejudica alunos que poderiam se beneficiar de uma formação mais prática. Em países como os Estados Unidos, muitas pessoas oferecem bons empregos apenas com o ensino médio, algo que o Brasil ainda precisa se adaptar para sua realidade econômica.
Investimento em Educação e a Questão da Gestão
Embora o Plano Nacional de Educação preveja um aumento do PIB investido em educação, Oliveira considera que o problema real é a má gestão dos recursos. Ele argumenta que, sem uma melhoria na administração, os investimentos aumentam apenas o desperdício. Para ele, o Brasil deve primeiro resolver problemas estruturais para que o investimento adicional tenha impacto real.
Perspectivas para o Futuro da Educação no Brasil
Finalmente, Oliveira se mostra pessimista quanto ao progresso educacional até 2021, afirmando que a permanência do país no patamar mesmo se não adotar medidas consistentes e baseadas em uma gestão eficaz. Ele acredita que estabelece metas, sem investir em políticas corretas e em uma infraestrutura educacional sólida, não trazendo mudanças significativas.
Em suma, Oliveira reforça a necessidade de abandonar o conceito de escolas-modelo e adotar uma abordagem sistêmica que promova a qualidade de ensino em todas as escolas, garantindo, assim, uma educação democrática e acessível para todos.
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