A princípio, aumenta o fosso entre os alunos das escolas públicas e privadas – e a razão é uma só: as escolas privadas têm pressão para continuar a ensinar. Já nas públicas a pressão é muito menor. Assim, a pressão ou falta dela não explica tudo, mas explica a maior parte. Ademais, mais uma vez, e também na educação, os pobres irão pagar um preço mais alto.
Hoje, o jornal Valor Econômico publicou uma reportagem a respeito de indicadores de sucesso na alfabetização de alunos durante a pandemia no município gaúcho de Viamão. Nesse sentido, este é um dos poucos casos de sucesso documentado no Brasil até o momento. Como em todo bom jornalismo, a reportagem apresenta os dados e o contraditório, com comentaristas procurando falhas e limitações nos dados. Até aí tudo normal.
É possível aprender durante a pandemia?
Os comentários, em sua essência, reproduzem as limitações metodológicas que haviam sido feitas no próprio estudo – portanto, não acrescentam nenhuma informação. Três comentários me chamaram a atenção. Um deles foi a suspeita de que o município tem nível socioeconômico mais elevado do que a média do país. O outro foi o de que o município possui maior nível de acesso à internet do que outros municípios. O terceiro foi o de que os bons resultados possivelmente estariam associado ao fato de que Viamão já havia iniciado um processo de melhorar a educação no ano anterior. Mas fica a pergunta: e os demais municípios brasileiros que também se encontram nessas condições? O que aconteceu neles? Os alunos foram alfabetizados? Houve esforço para alfabetizar? E por que não melhoraram nos anos anteriores?
A postura de justificar a inação das escolas públicas em nome das dificuldades dos alunos ou, especialmente, da falta de 5G precisa ser superada. Ela contribui para justificar a inação e o descaso. Ninguém escapa dos horrores da pandemia. Mas isso não é desculpa para inação ou amadorismo.
A tecnologia não faz milagres
O caso de Viamão sugere três lições importantes para todos os responsáveis pela educação, mas especialmente os secretários de educação. Primeiro, há muito que se pode fazer. Segundo, usar estratégias de reconhecida eficácia tem maiores chances de dar certo do que improvisar – o 5G não torna o improviso mais eficaz. Terceiro, a tecnologia não faz milagres – o que produz resultados é a qualidade pedagógica dos materiais e o gerenciamento.
Ainda não temos luz no final do túnel. Há muito que os municípios e escolas podem fazer durante a Pandemia. É inaceitável e irresponsável justificar a inação pela falta de 5G.
Texto originalmente publicado no blog Educação em evidência, da Veja.