Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no site Brasil Post
No modelo atual de educação escolar – e até prova em contrário face às novas tecnologias – o professor é a peça-chave. É dentro da sala de aula que podemos medir o impacto de qualquer reforma da educação. Uma reforma só é boa quando melhora o que acontece com o aluno. E isso, por sua vez, depende do que acontece na interação do aluno com seu professor. De todas as variáveis que podem explicar o “efeito da escola” a de maior impacto é o professor. Portanto, faz sentido assegurar que as escolas tenham os melhores professores.
Os desafios não são triviais: saber o que é um bom professor, formar bons professores, saber identificar, escolher e manter esses bons professores nas escolas. Mas existem algumas evidências científicas e alguns “benchmarks” com base nas práticas dos países com melhor desempenho escolar que podem ajudar. Vamos a eles.
As evidências científicas dizem pouco, mas o pouco que dizem é importante. O professor precisa dominar os conteúdos do que ensina, mas também precisa dominar métodos adequados de ensinar esse conteúdo para os seus alunos. É impossível dominar métodos sem conteúdo, e é pouco eficaz dominar conteúdos sem saber usar bons métodos. Importante: não é necessário saber muito mais do que o conteúdo a ser ensinado para ser bom professor. Onde existem currículos é fácil saber quais conteúdos o professor precisa dominar. Já o conhecimento sobre metodologias eficazes é mais precário, mas suficientemente robusto para orientar um professor bem formado. As evidências mostram que os alunos de um professor nessas condições aprendem de 20% a 40% a mais por ano – o efeito cumulativo de ter bons professores pode representar um ganho equivalente a mais de 3 anos letivos ao longo de 10 a 12 anos de vida escolar. As mesmas evidências mostram que os sistemas de ensino que eliminam os 5% piores professores apresentam ganhos significativos no desempenho médio dos alunos. Uma explicação plausível é que o risco de demissão manteria alertas a maioria dos professores.
Já as melhores práticas confirmam o velho ditado – há diferentes maneiras de conseguir bons professores. A base é comum: bons professores foram bons alunos e os melhores países recrutam seus professores entre os 30% melhores formandos do ensino médio. Sem isso não adianta o resto. Segundo, as estratégias de formação dos professores variam muito nos diferentes países bem sucedidos, mas têm um ponto em comum: antes de entrar na sala de aula pela primeira vez os professores precisam demonstrar que sabem o que vão ensinar. Se isso não começa direito depois é impossível consertar. A experiência brasileira com a infindável “capacitação de professores” é testemunha disso. Terceiro, em algum momento, durante ou ao final da formação, ou durante os 2 a 3 anos iniciais de carreira, os professores recebem orientação, supervisão e guia para aprender métodos, técnicas e a dar aulas de qualidade. Tipicamente 50% dos candidatos a professor deixa a carreira nesse momento, pois ser professor não é fácil. E quem fica já aprendeu, nessa altura, o essencial do que precisa aprender. Depois disso o professor pode se sentir melhor, mas seu impacto sobre o desempenho dos alunos não muda muito. O desafio é manter esse professor operando nesse nível elevado de desempenho para o resto da vida.
Os países em que a educação anda melhor – usando o Pisa como critério – vivem em estado de alerta em relação à qualidade dos professores. Alguns investem mais no recrutamento de alunos para as escolas de formação de professores. Outros investem mais na formação. Outros, na seleção de pessoas formadas por diferentes vias. Outros, ainda, na formação profissional/didática ou no estágio probatório. As formas de agir são diferentes, mas os critérios para certificar quem entra e quem fica no magistério tendem a ser muito semelhantes. Entra quem domina o conteúdo, fica quem, além disso, sabe ensinar bem.