Denise é autora de materiais didáticos e técnicos para a promoção de políticas públicas eficazes na educação e de releituras inspiradas em clássicos infantis, como “O boneco que queria ser menino”, “Carta de um Hobbit”, “A Feiticeira de Nárnia”, “Diário de Matilda” e “James, o Capitão Gancho”, da Alfa e Beto Soluções. Em entrevista para o Blog da Alfa e Beto Soluções, a autora comenta o desafio do professor em manter o interesse dos alunos pela leitura após a alfabetização. Para Denise, a escola tem o papel de despertar o gosto pela leitura, de criar diferentes momentos de conexão e diversão por meio dos livros.
Escrever livros infantis foi uma consequência na vida de Denise Mazzuchelli que sempre esteve imersa nesse universo. Em 2010, contribuiu com a elaboração do “Guia IAB de Leitura para a Primeira Infância – os 600 livros que toda criança deve ler antes de entrar para a escola” e coordenou a Biblioteca do Bebê na Bienal Internacional de SP como representante do Instituto Alfa e Beto.
“De lá pra cá meu olhar ficou muito mais apurado para a literatura infantil e para os parâmetros de qualidade e eu passei a escrever formalmente histórias que pudessem dialogar com as crianças e que pudessem ser pontes para os adultos interagirem com elas”. – comenta Denise.
Mestre em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano, Denise também atua como educadora parental, dedicando-se especialmente a programas de parentalidade positiva e intervenções com famílias de baixa renda. Durante seu processo criativo para adaptar clássicos infantis para a Coleção Leituras para o Ensino Fundamental I, conviveu com inquietudes sobre “o que Bilbo Bolseiro diria em uma carta para crianças de segundo ano?” e “o que Matilda confidenciaria em seu diário?”. Quando encontrou a forma certa do argumento, foi a vez de adequar vocabulário e sintaxe para possibilitar o desenvolvimento da fluência de leitura.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista com a escritora.
Qual a importância de apresentar histórias de heróis e vilões para crianças? O que elas podem aprender com isso?
Denise Mazzuchelli – Crianças amam histórias e elas são uma ponte para interações profundas e importantes na infância. Histórias de heróis e vilões são particularmente interessantes porque evidenciam conflitos e eles são parte da vida, desde sempre. Os conflitos entre heróis e vilões podem ensinar os pequenos a lidarem com suas dores, emoções e frustrações. Além disso, podem possibilitar o desenvolvimento de valores, o exercício da empatia, da regulação emocional, da capacidade de predizer o que virá e de levantar possibilidades alternativas diante de problemas.
Por que você optou pela escolha dos personagens: Pinocchio, Hobbit, Feiticeira de Nárnia, Matilda e Capitão Gancho?
DM – Não foi fácil escolher apenas cinco no universo de tantos heróis e vilões fascinantes da literatura. O briefing recebido trazia sugestões e elas foram determinantes para minha decisão. Um dos meus livros favoritos é “O visconde partido ao meio” de Ítalo Calvino e ele foi, em grande medida, uma inspiração para trazer esse diálogo entre o bem e o mal como pano de fundo das histórias. Optei por trazer personagens que propiciassem um mergulho mais profundo na percepção de “bom” e “mau”, “certo” e “errado”. Escolhi protagonistas com a ambiguidade própria do humano e que, de certa forma, pudessem fazer o leitor questionar “será que essa atitude é de um herói?”, “será que esse vilão é mau mesmo?”. O Pinóquio, por exemplo, errou inúmeras vezes, foi irresponsável, injusto com seu pai e criador e mesmo assim (veja “e”, não “mas”) foi consagrado herói. Por outro lado, quem poderia imaginar que o Capitão Gancho teria a sensibilidade de apreciar rosas e que amava recitar Shakespeare nas madrugadas?
Como a leitura se relaciona com o desenvolvimento infantil? Qual o papel da escola nisso?
DM – As evidências sobre o impacto da leitura no desenvolvimento infantil são robustas e fartas. A leitura é determinante não só no desenvolvimento cognitivo. Há habilidades muito requintadas conhecidas como funções executivas que vão se desenvolvendo até os 25 anos de idade e que são impactadas pela leitura desde a primeira infância. Portanto, a escola tem o papel de despertar o gosto pela leitura, de – assim como a família – criar diferentes momentos de conexão e diversão através dos livros.
Heróis e Vilões são temas adequados para serem trabalhados em sala de aula? Por quê?
DM – Absolutamente. Conhecer heróis e vilões, faz com que a criança entenda e reflita sobre as questões fundamentais da existência (quem sou, de onde vim, para onde vou) e, ainda, pode ajudar muito na mediação dos conflitos que emergem entre as crianças em diferentes faixas etárias. O contato com heróis e vilões nos ajuda a refletir sobre a condição humana.
Após a alfabetização, quais estratégias o professor deve adotar para estimular nos alunos o interesse pela leitura?
DM – Apresentar boas referências, possibilitar o contato com os clássicos e ler muito, muito mesmo.
O que o professor pode fazer com alunos que apresentam dificuldades e/ou resistência em desenvolver uma boa leitura?
DM – O professor pode incluir a leitura como parte de outras atividades, não só a “hora da leitura”; pode envolver as famílias, pode cultivar no dia a dia o contato com livros como, por exemplo, abrindo um tema com a leitura de um trecho, de uma poesia ou uma crônica.
Para conhecer e se encantar com os livros escritos por Denise Mazzuchelli, clique em cima dos títulos abaixo: