Educadores que trabalham com alfabetização frequentemente se veem diante do desafio de ensinar um aluno com dificuldades de aprendizagem. E, enquanto se esforçam para identificar os aspectos que estão criando obstáculos, muitas vezes surge o questionamento se esse aluno tem dislexia. Apesar de ter se tornado tema corriqueiro, a dislexia ainda causa dúvidas e preocupa pais e professores. Afinal, se todos os esforços estão sendo feitos para ensinar a criança a ler e a escrever, por que ela não aprende? Será que é mesmo dislexia?
O que é dislexia?
A dislexia é um transtorno específico e persistente da leitura e da escrita, que se caracteriza por um baixo desempenho na capacidade de ler e escrever. As pessoas com dislexia têm dificuldade em estabelecer as correlações entre os grafemas (letras) e os fonemas (sons).
Existem dois tipos de dislexia: a adquirida e a do desenvolvimento. A primeira está relacionada lesões encefálicas, como acidente vascular cerebral (AVC) ou traumas, e o paciente apresenta dificuldade de leitura que pode ser pura, a chamada alexia sem grafia, ou pode ser acompanhada, por exemplo, de quadros afásicos, de dificuldades de linguagem oral, podendo acometer pessoas em qualquer idade. O segundo caso é o que mais preocupa pais e professores, a chamada dislexia do desenvolvimento. Ela é uma condição genética e hereditária, e acomete crianças em idade escolar, normalmente sendo identificada quando elas estão iniciando o processo de alfabetização.
Cada disléxico é diferente do outro e o transtorno pode ter níveis variados: leve, moderado e severo. Assim, a forma do tratamento vai depender do quão comprometida está a alfabetização da criança por conta do problema. Ela pode ser atendida por um psicólogo, psicopedagogo ou fonoaudiólogo, dependendo de suas características. Entretanto, há traços comuns que permitem identificar o problema – e que devem ser analisados por pais e professores para que o acompanhamento especializado tenha início o quanto antes.
Quais são as características?
A criança com dislexia é aquela que tem problemas na escrita, leitura e soletração. Para diferir o transtorno de outras dificuldades de aprendizagem é preciso descartar os possíveis impactos de fatores psicológicos e físicos ao explicar essas dificuldades. A organização Dislexia Brasil recomenda aos professores que busquem averiguar com os pais se seus filhos apresentam alterações orgânicas, como problemas de visão ou perda auditiva por otites de repetição (por um histórico de infecção na orelha média), ou outras deficiências físicas que prejudiquem a aprendizagem, além de considerar possíveis problemas emocionais que possam afetar o pleno desenvolvimento da criança.
Uma característica comum é que pessoas com dislexia possuem problemas fundamentais ao relacionar a linguagem escrita com a linguagem falada, cortando e invertendo letras na escrita de palavras, bem como confundindo o som de um fonema com um grafema não correspondente a ele. Ao mesmo tempo, essas crianças são capazes de desenvolver plenamente atividades que não envolvem a escrita e demonstram habilidade espacial para construir modelos, como blocos de montar e quebra-cabeças, sem o uso de instruções; habilidade de fazer perguntas pertinentes ao tema de uma conversa usando vocabulário adequado para a idade; consciência social bem desenvolvida; habilidade de resolver problemas rapidamente; e alto desempenho em geometria, xadrez, jogos de cartas e jogos digitais.
Quais os riscos e como tratar?
Sem a identificação precoce de seus professores e pais, alunos com dislexia correm o risco de passar por fracassos contínuos na escola. De acordo a Dislexia Brasil, os disléxicos perdem a confiança e a motivação rapidamente quando percebem que seus colegas avançam nos conteúdos e os deixam para trás e, em alguns casos, os disléxicos se tornam marginalizados, não conseguem se integrar socialmente e podem se envolver com comportamento antissocial. Isso acaba criando uma confusão na compreensão do problema, que muitas vezes é confundido com baixas capacidades intelectuais, recusa em aprender e até estrutura familiar frágil.
Apesar de persistente, a dificuldade com a leitura e a escrita varia de acordo com a demanda dessas atividades ao longo da vida. Os disléxicos por terem uma maneira diferente de processar as informações, desenvolvem estratégias para compensar suas dificuldades e conseguem se superar, levando uma vida normal. Certamente atividades de leitura e escrita serão sempre um desafio, mas não significa que as dificuldades não possam ser minimizadas.
O diagnóstico e o tratamento envolvem atendimento multidisciplinar e especialistas da área. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais efetivo será o tratamento.
Como saber mais sobre dislexia
O Instituto ABCD oferece um site com explicações sobre a dislexia e também sugestão de jogos de alfabetização para estimular crianças nessa fase. Além disso, no site institucional há um guia de perguntas e respostas, além de referência de legislação e dados pertinentes ao tema.
Já o portal Dislexia Brasil oferece um curso online aberto a qualquer pessoa que deseje entender mais profundamente o assunto. O curso traz referências de pesquisas sobre o tema, guia para pais e professores, instrumentos e técnicas para usar com crianças disléxicas, e explicações sobre o processamento da linguagem e o desenvolvimento da leitura. Para acessar o curso completo é necessário fazer um cadastro gratuito.
Quem fala inglês, pode consultar também o site do Centro para Dislexia e Criatividade de Yale (The Yale Center for Dyslexia and Criativity), da Universidade Yale, uma das mais renomadas dos Estados Unidos e do mundo, com pesquisas neurocientíficas e indicações para políticas públicas voltadas para pessoas com dislexia.