A Associação Brasileira de Linguística (Abralin) realizou no dia 2 de junho uma conferência on-line no canal oficial da Associação no YouTube com o tema “Alfabetização: erros, concepções equivocadas e suas consequências para o ensino”. O encontro contou com a participação do professor João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, e do professor Pedro Caldeira, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e teve a moderação de Eduardo Calil, pesquisador da CNPQ e coordenador do Laboratório do Manuscrito Escolar, da Universidade Federal do Alagoas.
Um dos objetivos da iniciativa foi debater com profissionais da área de linguística e de ensino da Língua Portuguesa concepções equivocadas que ainda persistem no campo da alfabetização no Brasil. Os palestrantes procuraram documentar e chamar a atenção para falhas no discurso que fundamenta a proposta construtivista para alfabetizar, como, por exemplo, a noção de “psicogênese da escrita” e o conceito de “letramento”, que trata a alfabetização a partir de uma dimensão social e política.
Para o presidente do Instituto Alfa e Beto, o evento promovido pela Abralin pode ser visto como “um convite ao diálogo e ao debate sobre um tema que afeta a vida de todo mundo. Mesmo que com atraso, é necessário que se inicie a implementação do conhecimento científico na área de alfabetização”, disse. Ao longo da conferência, os dois convidados destacaram cinco pontos que caracterizam os erros e as concepções equivocadas que ainda cercam a alfabetização: um erro conceitual, que é a abordagem do Whole Language; um caso de deslocamento de conceito, relacionado à Psicogênese da Língua Escrita, teoria que teve e ainda tem um grande impacto no Brasil; um exemplo de abuso da linguagem – no caso, os PCNs, que são a origem, inclusive, da BNCC; um outro erro conceitual, que é o contexto de textos autênticos e que afeta a produção de livros didáticos; e, por fim, um caso que inclui os tipos de erros acima, que é o conceito de letramento e as suas implicações.
O professor Pedro Caldeira focou sua apresentação no conceito de letramento. “Basicamente, é o elemento adotado nos processos de alfabetização no Brasil e que comunga todos os erros e equívocos apresentados”, explicou. Na avaliação do especialista, “se a alfabetização não for bem feita, se as relações ou correspondências sistemáticas entre grafema e fonema não forem bem feitas, e, se em termos cerebrais, não houver uma construção adequada dessa relação, o resto do processo em termos de letramento ficará dificultado”, defendeu. Ao abordar essa questão, o professor João Batista Oliveira salientou que o conceito de letramento tem prevalecido sobre o de alfabetização, mas não se deve separá-los. “Essa interpretação equivocada dos dois conceitos levou o Brasil a um descarrilamento sobre o entendimento da alfabetização, sobretudo sobre a prática da alfabetização”, complementou.
Para assistir na íntegra à conferência com os professores João Batista Oliveira e Pedro Caldeira, realizada no dia 2 de junho – Os interessados em assistir na íntegra à conferência on-line “Alfabetização: erros, concepções equivocadas e suas consequências para o ensino” devem clicar aqui. O evento já foi visto por mais de 2,3 mil pessoas, e muitas delas participaram enviando perguntas e fazendo comentários.
Sobre o evento da Abralin – Em meio ao isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, o “Abralin Ao Vivo – Linguistas on-line” tem o objetivo de manter o intercâmbio de ideias entre pesquisadores para continuar subsidiando ações técnicas e decisões políticas fundamentadas no conhecimento científico. Com uma agenda diária de conferências e mesas-redondas com importantes nomes do cenário nacional e internacional, o evento é transmitido on-line, em uma plataforma aberta e interativa, com espaço para perguntas da audiência.
Matéria sobre o evento na Gazeta do Povo – A jornalista Isabelle Barone, da Gazeta do Povo, do Paraná, acompanhou a conferência e produziu uma excelente matéria a respeito, a qual você pode conferir aqui.