No Brasil, seis em cada dez professores afirmam ter problemas de indisciplina com pelo menos 10% de seus alunos, de acordo com o TALIS, estudo da OCDE que mede o clima escolar. As reclamações envolvendo mau comportamento também partem alunos: em outra pesquisa realizada com 8.283 jovens e relatada no livro Juventudes na escola: sentidos e buscas, 41% declararam não querer estudar em classes com alunos “bagunceiros”.
Fator muito comum nas escolas brasileiras, a indisciplina é o tema do quarto boletim Aprendizagem em Foco, do Instituto Unibanco. A partir de levantamentos que revelam como o comportamento dos alunos pode afetar o clima escolar, a publicação mostra o que pode ser feito para reduzir o problema da indisciplina nas escolas.
Segundo o texto, a indisciplina impacta negativamente o aprendizado e prejudica as relações entre todos, mas é possível revertê-la. A OCDE identificou em sua Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem, por exemplo, que escolas que promovem maior participação de alunos, professores e pais em suas decisões, trabalhando numa cultura de responsabilidade compartilhada e de apoio mútuo, têm menor percentual de indisciplina.
Dentre as iniciativas que as escolas podem tomar para resolver o problema, de acordo com o Boletim Aprendizagem em Foco estão:
- elaboração conjunta de um código disciplinar, com normas de convivência delineadas por todos os membros do grupo escolar. Quando este código é elaborado e pactuado com alunos, professores, pais e funcionários, tende a ser muito mais eficaz do que quando simplesmente imposto de cima para baixo, diz o boletim;
- o incentivo ao engajamento de alunos em projetos escolares. Segundo a pesquisa do livro Juventudes na Escola: Sentidos e Buscas, uma das razões mais citadas pelos jovens entrevistados como aspecto que mais favorece que continuem estudando é ter “aulas legais”. Um ensino mais relacionado com a vida dos alunos também aparece entre as cinco razões mais lembradas;
- o melhor uso do tempo em sala de aula – de acordo com a OCDE, o Brasil é um dos países que mais gasta tempo de aula com problemas de indisciplina. A qualidade da aula é outro fator relevante. O pesquisador Martin Carnoy, da Universidade Stanford, identificou que os estudantes brasileiros eram menos engajados que os chilenos e cubanos, demonstrando mais vezes tédio ou desinteresse. No livro, publicado em 2009, uma das razões citadas pelos autores para esse problema é a falta de planejamento das aulas. Carnoy e sua equipe relataram que os estudantes do Brasil passavam muito mais tempo copiando instruções do quadro do que alunos chilenos ou cubanos.
O boletim conclui que a diminuição da indisciplina e a melhoria do clima escolar são missões urgentes no sistema educacional brasileiro. Elas têm o potencial de facilitar a aprendizagem dos alunos e fazer de nossas escolas ambientes mais acolhedores. Exigem esforço coletivo, de governos, diretores, professores, pais e estudantes. Há ações estruturais, que demandam investimentos ou reorganização dos sistemas, e outras que já podem ser colocadas em práticas pelos gestores e professores, como o envolvimento de todos os atores nas decisões mais relevantes do cotidiano escolar e o melhor planejamento das aulas.
Para saber mais, acesso o boletim virtual, onde é possível ver vídeos e a bibliografia de apoio.