Mesmo com o aumento do investimento em educação, a produtividade do brasileiro continua estagnada e é mais baixa do que de países como Argentina, Chile e Colômbia. Quais medidas devem ser tomadas para que o Brasil mude essa realidade e passe a formar trabalhadores cada vez mais eficientes para o mercado de trabalho? Esse foi um dos temas do IV Fórum Liberdade e Democracia, que aconteceu no dia 14 de março de 2019, em Florianópolis, e que contou com a participação do professor João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto.
O tema é complexo e está diretamente relacionado com a questão da formação do capital humano e as características do mercado de trabalho. “A grande diferença entre o Brasil e os países de maior desempenho se relaciona com a proporção da força de trabalho com nível médio de ensino, especialmente com nível médio técnico. A formação técnica ministrada nos países mais produtivos ensina não apenas habilidades relevantes, mas prepara os jovens para uma vida produtiva. O Brasil continua patinando nessa área, com a retórica e ambiguidade prevalecendo sobre o bom senso e a razão”, diz o especialista.
Além dos problemas estruturais da educação brasileira e da questão do ensino técnico nanico, outro fator responsável pela baixa produtividade do brasileiro, segundo o professor, é a falta de incentivos adequados. “O que temos são incentivos perversos, que aumentam a rotatividade da mão de obra e desencorajam as empresas a investir no capital humano, especialmente nos jovens que conseguem seu primeiro emprego. No mundo atual, e no cenário mais provável, as empresas que avançam qualificam os seus trabalhadores como condição de sobrevivência. E os países que avançam possuem políticas que incentivam as empresas a qualificar seus trabalhadores, por meio de empregos e carreiras qualificantes”, explica.
Investimento em educação e aumento da produtividade
Outro importante dado analisado foi a relação entre investimento em educação e o aumento da produtividade. Nos últimos vinte anos, os investimentos em educação começaram a aumentar muito em relação ao período anterior. Mas esse aumento não se refletiu no aumento da qualidade do ensino e não repercutiu na qualidade do que se aprende. Por outro lado, faltam programas adequados para a formação de mão de obra, e os que existem, com exceção do “Jovem Aprendiz”, são inadequados.
Para o professor João Batista, é preciso investir de maneira correta, principalmente na questão do emprego para os mais jovens. “A maioria das políticas de criar empregos ‘faz-de-conta’ – iniciativas tipo PRONATEC, estágios de curto prazo e tantos outros ‘programas de impacto’ – ou ‘programas de geração de emprego e de renda’, tão caros ao oportunismo político, no melhor caso qualifica as pessoas para empregos que não existem e apresentam resultados nulos ou negativos”, avalia. Além disso há descompasso de informação. Os jovens não possuem informações adequadas para decidir sobre o tipo de ensino médio ou superior que lhes seria mais adequado. Também parece haver um descompasso nas informações sobre o mercado de trabalho – há milhões de desempregados, mas há centenas de milhares de vagas não preenchidas.
João Batista Oliveira finaliza comentando que o debate sobre produtividade remete à “situação particularmente dramática dos jovens no país”. Ele defende políticas que discutam o tipo e o nível de escolaridade mais promissores para os indivíduos em um cenário de mudanças cada vez mais rápidas no mercado de trabalho. “Faltam-nos bons mecanismos de informação e sinalização para ajudar os jovens a estimar suas chances na escola e no mercado de trabalho”, diz. “Existem instrumentos que, se bem calibrados, poderiam contribuir para nos ajudar a tirar o pé do barro. O país carece de uma política de formação de capital humano”, conclui.
Os slides da apresentação do professor João Batista Oliveira no IV Fórum Liberdade e Democracia podem ser vistos aqui. Já o vídeo da apresentação pode ser visto aqui.