Concluímos o post anterior (leia aqui o post anterior e aqui o primeiro desta série) ressaltando que o impacto da escola sobre a aprendizagem deriva, em grande parte, das suas características estruturais. Assim como a forma modela o bolo, a estrutura hierárquica da escola modela comportamentos que podem levar a resultados cognitivos desejáveis. Muitos hão de torcer o nariz – a desconstrução da escola na década de 70 deixou marcas desastrosas em vários países, e profundas na educação brasileira.
A atual pandemia colocou em evidência o risco mais grave: o que vai acontecer com a aprendizagem? Muitos se apressam em atribuir os problemas à falta de internet ou conectividade. Isso é importante, mas está longe de figurar dentre as questões centrais. A questão central se refere à “ecologia” da aprendizagem, ou seja, os alunos foram arrancados de seu habitat natural onde – bem ou mal – estão acostumados a aprender.
Esse “habitat” promove uma estrutura para aprender. Alguns desses aspectos são óbvios. Referimo-nos aqui às características da escola formal, que têm início no ensino fundamental: a escola tem calendário, currículo, ano letivo, disciplinas, regras. Tem poder para implementar suas regras, inclusive no que se refere a normas de comportamento. Organiza o ensino em disciplinas e implementa mecanismos disciplinares para reforçar e regular comportamentos. Outras escolas agregam outros componentes, como o envolvimento das famílias, o carisma do diretor, o clima acadêmico e coisas do gênero.
Esse conjunto de fatores estruturais e os mecanismos que promovem (ou não) a sua implementação, no dia-a-dia, contribuem para desenvolver o que os antigos chamam de virtudes cívicas (“não aprendemos para a escola, mas para a vida”), Jim Heckman chama de “caráter”, e hoje é mais conhecido como “habilidades socioemocionais”. O que os antigos não sabiam, os psicólogos descobriram e os economistas ajudaram a explicar: o impacto dessas habilidades não apenas para ajudar a aprender, mas para ajudar a viver e ter êxito no emprego e na vida.
Muitas dessas habilidades se desenvolvem em função da própria estrutura, regras e modos de funcionamento da escola. Um exemplo simples é o impacto de políticas de pontualidade e frequência escolar, ou políticas relacionadas com “colar” em provas. Mas é sobretudo pelo exemplo e pelo ensino rigoroso de um currículo rigoroso implementado com o uso rigoroso de métodos e técnicas adequadas à disciplina e consistentes entre si que os professores ajudam as crianças e jovens a desenvolverem essas habilidades. Também podem ajudar atividades “extra-curriculares” em que os alunos terão mais vez, voz e oportunidades para tomar iniciativa e exercer a liderança.
No próximo post, trataremos das demais características da estrutura e funcionamento da escola que promovem o desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais.
Post original no blog Educação em evidência, na revista Veja.