Você já deve ter ouvido – ou repetido – frases como “as escolas precisam de mais dinheiro”, “a tecnologia é imprescindível para a melhoria dos índices educacionais” e “a família deve estar dentro da escola”. São lugares comuns da educação repetidos aqui e acolá por gestores, educadores e elaboradores de políticas públicas.
O que pouco se fala é que essas medidas, em sua maioria, nunca foram comprovadamente responsáveis por garantir a aprendizagem dos alunos. É o que aponta um relatório* lançado recentemente pelo pesquisador John Hattie, especialista do grupo educacional Pearson. Segundo o documento, chamado What Doesn’t Work in Education: The Politics of Distraction (O que não funciona em educação: as políticas de distração, em tradução livre), boa parte das políticas educacionais não impactam na aprendizagem, mesmo quando custam bilhões.
O que Hattie chama de distrações são ações que tiram o foco do aluno, distanciando a escola de seu objetivo central que é ensinar conhecimentos mínimos para que as crianças possam se desenvolver ao longo da vida. Segundo o pesquisador, isso acontece não por má fé dos gestores ou porque essas políticas estão erradas, mas porque mesmo quando são boas, essas medidas tendem a surgir como fórmulas mágicas que tiram o foco de outros aspectos mais críticos e comprovadamente eficazes.
Abaixo selecionamos cinco medidas apontadas no relatório como ineficazes – e que são amplamente difundidas no Brasil. Confira:
Reduzir o número de alunos por sala
Essa medida é particularmente bem recebida pelos pais, que pensam que seus filhos receberão atenção mais individualizada com as classes menores, com professores que os ajudarão em suas dificuldades. Entretanto, análises do desempenho de estudantes de mais de 60 países no PISA mostram que essas estratégias apresentam resultados pouco significativos. Isso porque, segundo Hattie, mesmo com salas menores, a maior parte dos professores não muda sua maneira de ensinar. Eles continuam, por exemplo, gastando tempo com aulas expositivas e dedicando-se pouco à aplicação e à correção de exercícios. Hattie ainda faz um alerta aos pais em seu relatório: levem em conta a qualidade do professor e não o tamanho da turma na hora de escolher uma escola.
Reformar escolas
Políticos adoram construir novas escolas, principalmente se elas forem amplas, largas, cheias de vidros e com poucas paredes. Entretanto, há diversos estudos que mostram que o formato da escola tem pouca relação com a aprendizagem dos conteúdos. Isso porque, em geral, as iniciativas que mudam a infraestrutura das escolas não são realizadas em conjunto com os professores, instruindo-os sobre como usar o novo espaço da melhor maneira. Segundo Hattie, para que fosse realmente efetiva, mudanças na infraestrutura deveria contar com um manual dedicado a ensinar os professores a dar aulas em espaços abertos e a como não perder a atenção dos alunos com distrações externas.
Rotular estudantes com dificuldades de aprendizagem
No Brasil, assim como no resto do mundo, tem aumentando a cada ano o número de crianças que chegam ao primeiro ano do ensino fundamental com diagnóstico de transtornos de aprendizagem. Entretanto, segundo Hattie, mesmo que os métodos de diagnóstico tenham avançado, facilitando a verificação desses problemas, os transtornos têm aparecido muitas vezes como justificativa para as dificuldades de pais e professores em ensinar corretamente essas crianças. Não quer dizer que o problema não exista – pelo contrário. Mas o que se nota são relatos de um número crescente de crianças tomando mais medicamentos, induzindo ao falso entendimento de que alunos mais calmos serão melhores aprendizes. De fato, o que as pesquisas mostram é que intervenções no comportamento de alunos com dificuldades podem produzir efeitos mais significativos do que o medicamento. Porém, afirma Heattie, isso não acontece porque a intervenção na aprendizagem custa mais caro para o sistema escolar do que os remédios, que geralmente são pagos pela família.
Ampliar o tempo das crianças na escola
Uma das políticas públicas que mais se fala no Brasil é a expansão do ensino em tempo integral, no qual o aluno passa mais de sete horas por dia dentro da escola. Entretanto, Hattie afirma que o aumento do dia letivo é um ajuste muito dispendioso e tem comprovadamente pouco efeito, já que não há correlação positiva entre o tempo de instrução e o rendimento do aluno. Segundo o pesquisador, nenhuma análise comprovou até hoje que deixar as crianças mais tempo na escola fará com que elas aprendam mais ou mais rapidamente.
Colocar mais profissionais na escola
Assim como o argumento de que reduzir o número de alunos por sala ajudaria a garantir atendimento mais individualizado, o aumento do número de educadores nas escolas também surge como uma bandeira de muitos. Na prática, isso acontece principalmente em turmas das séries iniciais do fundamental, que por vezes contam com assessores pedagógicos para auxiliar os docentes. O que as pesquisas mostram, contudo, é que a presença desse segundo profissional em sala pode até atrapalhar o andamento da turma. Hattie aponta um estudo da Universidade de Londres que mostrou que turmas que tinham esse profissional apresentavam rendimento igual ou até pior em provas, porque os auxiliares acabavam se atendo a questões não curriculares. A pesquisa mostrou ainda que esse segundo profissional não ajudava os alunos com dificuldade e que, em geral, acabava fornecendo as respostas corretas a eles, em vez de ensiná-los corretamente.
E você? O que acha de cada uma dessas práticas? Deixe seu comentário abaixo. Nós queremos te ouvir!
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Clique aqui para conferir o estudo completo de John Hattie (em inglês)