Semana passada falamos aqui no Blog Alfa e Beto sobre as práticas ineficazes da educação, aquelas que, apesar de muito difundidas, não impactam positivamente no desempenho dos alunos. Mas apenas identificar o que não dá certo não é o bastante, não é verdade? Pensando nisso, começamos esta semana detalhando cinco práticas eficazes para melhorar a educação.
A lista leva em conta algumas práticas pedagógicas consagradas e que foram compiladas pelo pesquisador e consultor em educação John Hattie, do grupo Pearson educacional, num relatório* recente.
Com base em uma análise do desempenho de estudantes de várias partes do mundo em avaliações como o PISA, o pesquisador traçou atitudes que todo professor, coordenador e gestor pode adotar no dia a dia para garantir que seus alunos cheguem ao final do ano sabendo todo o conteúdo esperado. Listamos abaixo cinco medidas consideradas eficazes de acordo com a pesquisa. Confira:
Promova a colaboração dentro da escola
Os resultados do PISA 2009 mostram que a diferença de desempenho entre escolas de uma mesma região varia em média 36%, enquanto dentro de uma mesma escola a diferença de desempenho de uma sala de aula para outra pode ser de até 64%. Segundo o pesquisador, uma das principais causas dessa diferença intraescolar é a efetividade de cada professor. Não significa que um professor é ruim e o outro bom, mas sim que a maneira de dar aula de cada um pode produzir efeitos variados na aprendizagem do aluno. Engana-se quem acredita que ‘consertar o professor’ é uma saída para isso. Colocar a responsabilidade em apenas uma pessoa (o professor), é ignorar que existem outras variáveis além de seu alcance. É aí que aparece a importância da colaboração dentro da escola, não apenas entre professores, mas entre equipe gestora e demais funcionários. Encontros formativos voltados para analisar as estratégias que funcionam em todas as turmas, e que não sejam centrados apenas nas particularidades de uma turma, são a chave para que a colaboração tenha impacto na aprendizagem. Todos assumem a responsabilidade pelo ensino e avaliam as medidas que melhor funcionam para, então, colocá-las em prática.
Aumente as expectativas sobre o aluno
No estudo Becoming a High Expectation Teacher: Raising the Bar (sem tradução para português), publicado em 2014, a pesquisadora Christine Rubie-Davies, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, mostra que na maior parte do tempo os professores têm médias e baixas expectativas acerca do desempenho de seus alunos diante do conteúdo ensinado. E diz também que aqueles poucos com expectativas mais alta as atingem facilmente, porque já era esperado que o fizessem – do mesmo modo que os demais também apresentam baixos resultados. É uma pena que aos oito anos de idade muitos alunos já tenham noção de que lugar eles ocupam no rol de expectativas dos professores: se eles recebem um 5 e ninguém lhe cobra melhorares resultados, eles esperam receber outro 5 na próxima vez e assim vão perpetuar as baixas notas. É papel da escola fazer com que os estudantes excedam as expectativas. Apenas desse modo eles vão desenvolver significados para sua aprendizagem.
Crie mecanismos de avaliação
Após entender as expectativas de alunos e professores, é preciso criar métodos de avaliar essas expectativas. Mais do que avaliar o desempenho, entretanto, é necessário avaliar a aprendizagem dos alunos, sabem como e por que eles aprenderam um determinado conteúdo e outros não. Segundo o relatório de Hattie, essas atividades devem prever avaliações para entender como o aluno se envolve em atividades colaborativas de resolução de problemas, quais estratégias de elaboração ele utiliza para responder as questões, como ele pratica os exercícios e quais suas estratégias de motivação. A chave é entender como o aluno aprende para impulsionar sua aprendizagem. Use a avaliação para ir na direção dessas questões ao invés de apenas mensurar as notas obtidas pela turma.
Use as evidências no dia a dia
Com uma análise dos resultados da avaliação é possível criar mecanismos de feedback que são de extrema valia para melhorar o trabalho em sala de aula. Além dos resultados das provas, que podem apontar quais conteúdos precisam ser reforçados, os professores podem contar também com pesquisas que mostram evidências de boas práticas em sala, realizadas tanto no Brasil quanto em outros países. É importante lembrar que uma boa pesquisa explicita a metodologia e utiliza uma amostragem razoável para que o resultado tenha validade e possa ser considerado como um exemplo de prática. Isso significa que observar apenas o que acontece em uma única sala de aula pode não ser a melhor maneira de ter uma evidência confiável para garantir a efetividade de uma prática de ensino. Buscar artigos científicos citados em publicações confiáveis é a melhor maneira de encontrar uma fonte de conhecimento para ajudar no dia a dia da escola.
Faça valer o ano
Se você tem qualquer relação com a escola, sendo você um professor, gestor, funcionário, pai ou mão, então sabe que o compromisso com a escola é anual e se renova a cada ano. Então, atue para que seu ano valha a pena e para que os estudantes absorvam um ano de conhecimento escolar a cada ano de trabalho que você dedicar. É uma equação que parece óbvia, mas sabemos que anualmente milhares de crianças e adolescentes deixam as salas de aula sem saber o mínimo para conseguir seguir para a próxima série e para se desenvolver no mundo fora da escola. Comprometer-se é a principal tarefa para garantir o sucesso do processo educacional.
Você já trabalha com alguma dessas práticas? Qual gostaria de colocar em prática? Deixe um comentário sobre o tema no espaço abaixo ou nas nossas redes sociais. Queremos saber o que você faz para garantir a aprendizagem dos alunos.
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*Clique aqui para ver o relatório What works best in education: the politics of collaborative expertise (apenas em inglês), de John Hattie