Walfrido Duarte S. Neto é formado em Psicologia e coordena a parceria do Instituto Alfa e Beto com o Programa Criança Feliz.
Entre os dias 10 e 23 de Fevereiro ele coordenou os grupos de capacitadores do Instituto Alfa e Beto que ministraram o programa de certificação dos multiplicadores do Programa Criança Feliz em sete diferentes capitais do país.
Nesta entrevista, Walfrido analisa alguns dos lances e das lições mais importantes que extraiu dessa experiência.
Qual foi o seu maior desafio nessa tarefa?
O grande desafio foi gerenciar a distância, auxiliando a equipe de capacitadores do Instituto Alfa e Beto a manter o foco dos multiplicadores na proposta de vivenciar o método CDC – Cuidados no Desenvolvimento da Criança – no meio a tantas outras incertezas que os preocupavam. .
Em que consiste o programa de certificação?
O programa de certificação consiste em capacitar e avaliar os multiplicadores, para garantir que eles adquiriram os conceitos, as habilidades e possuem a postura adequada para o trabalho.
A metodologia de certificação do CDC foi desenvolvida por uma das coautoras do CDC, a Dra. Jane Lucas. No primeiro momento ela veio de Nova York para trabalhar intensamente com a equipe do Instituto, cujos componentes já conheciam e haviam trabalhado com a proposta. Desse trabalho surgiu o desenho da metodologia, em três fases. Na primeira fase, os capacitadores participam como aprendizes, para conhecer e se familiarizar com a intervenção. Na segunda, participam como observadores de uma capacitação típica de supervisores. Na terceira, atuam como colaboradores na capacitação de uma amostra de visitadores. Além disso, eles são convidados a participar das questões de organização, logística e coordenação das práticas clinicas.
Por que a equipe do Instituto Alfa e Beto foi escolhida para esta tarefa?
O Instituto Alfa e Beto tem uma larga experiência em educação infantil e o fato também de sermos parceiros da UNICEF/OMS através da Dra. Jane Lucas, Coautora do método CDC, na tradução e aplicação desta metodologia em Petrolina e Boa Vista em anos anteriores credenciaram-no para formalizar esta parceria. Acredito também que a expertise do IAB em trabalhar baseado em evidência ajudou na escolha do Ministro Osmar Terra, pois dentro dos seus objetivos de implantação e implementação do Programa Criança Feliz inclui-se um estudo em larga escala para avaliar os impactos positivos do método CDC na vida das crianças beneficiárias do PBF.
Quais foram os pontos altos da capacitação?
Quando trabalhamos com gente o que sempre surpreende são as pessoas, suas experiências, sua abertura maior ou menor para abrir-se, aprender e trocar experiências. Isso é sempre muito enriquecedor, sobretudo quando as pessoas agem de maneira profissional, com foco numa tarefa a ser realizada.
Especificamente, no caso, o ponto alto é sempre a reflexão em torno da prática. Temos momentos de estudo, momentos de prática mas o que efetivamente leva à aprendizagem são as análises, comentários e reflexões que surgem, possibilitando a integração da teoria com a prática. Muitos se surpreendem com a simplicidade e o alcance que o método tem. Apesar de vivenciar em apenas algumas intervenções simples e pontuais previstas no programa, os futuros multiplicadores compreendem o potencial deste método – aliado às ações transversais de encaminhamento – para transformar as vidas das nossas crianças.
Como você vê a adequação da metodologia do CDC para o Programa Criança Feliz? Serão necessárias adaptações para a realidade brasileira?
A metodologia do CDC já foi aplicada e testada em mais de 14 países pelo mundo e atende muito bem à necessidade básica de orientação do cuidador para garantir os estímulos adequados para o desenvolvimento pleno da criança. Os ajustes já feitos – e os que ainda serão feitos – têm mais a ver com questões de logística e implementação. Vale dizer que, de acordo com a proposta do MDSA, o CDC será o foco da visita – mas ele precisa ser contextualizado dentro de um protocolo que ainda não foi desenvolvido. No entanto a metodologia requer tempo, experiência e reflexão para ser absorvida – e, depois do treinamento inicial – é essencial, especialmente no primeiro mês de trabalho, uma supervisão muito bem feita e oportunidades para reflexão a partir dos primeiros embates dos visitadores com as realidades que irão encontrar.
Com base em sua experiência, que sugestões você tem a dar para os multiplicadores que serão certificados com base nessa capacitação?
A função de um multiplicador – que é a mesma da equipe que coordenei – é transmitir um conjunto de conhecimentos e habilidades. Mas, mais do que isso é transmitir um conjunto de posturas e valores. Dentre esse está a importância da fidelidade ao método e de manter foco durante as visitas. O sucesso do CDC está no seu foco – conquistar os cuidadores primários, adquirir a sua confiança e modelar comportamentos que os ajudam a promover a comunicação e a interação com as crianças, por meio de atividades rotineiras e simples do cotidiano. O exemplo e postura dos multiplicadores é tão importante quanto sua experiência, domínio das técnicas e capacidade de lidar e ajudar os treinandos a perceberam a essência do método. Quanto à fidelidade ao método, essa é essencial para levar o programa para todo o Brasil com a mesma qualidade.Esta postura do multiplicador também garantirá a linearidade do método e assim permitirá quantificar, através de pesquisas, a verdadeira transformação proporcionada a estas milhões de crianças que serão atendidas pelo Programa Criança Feliz.