Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.
Inteligência é um dos conceitos mais importantes da psicologia, sendo uma de suas áreas mais estudadas e que possui instrumentos comprovadamente eficazes de medição. Ao mesmo tempo, esta é também uma questão que mais suscita controvérsias, disputas, desavenças e mesmo hostilidade aos pesquisadores que se dedicam ao tema.
Mas, para começar, o que é inteligência? Há diferentes definições, mas optamos pela definição apresentada por Linda S. Gottfredson6, que diz: “Inteligência é a capacidade de raciocinar, planejar, pensar de maneira abstrata, compreender ideias complexas, aprender rapidamente e aprender a partir da experiência” (1997, p.13).
Portanto inteligência é algo real, ela se refere a conceitos e realidades que podemos identificar, medir e entender. Mas também é intangível, não é algo que podemos tocar, apalpar ou que esteja associado a um gene específico ou confinado a alguma área do cérebro. E é uma capacidade, ou seja, um conjunto de mecanismos internos que nos permite lidar de maneira diferenciada com as experiências que vivenciamos ao longo da vida. Mas inteligência é apenas uma capacidade, um potencial que precisa ser transformado em ação.
A inteligência é mensurável. O instrumento reconhecido pela comunidade científica internacional para medir a inteligência se chama QI – Quociente ou Coeficiente Intelectual. O QI abrange dois aspectos muito diferentes da inteligência: a inteligência cristalizada, ou seja o “acervo” de conhecimentos que uma pessoa acumula e que lhe permite resolver determinados tipos de problemas, e a inteligência fluida, que é a capacidade de resolver novos problemas, buscar soluções criativas e de aprender, em situações que dependem relativamente pouco de conhecimentos específicos já acumulados.
Embora diferentes, ambas dimensões são fortemente associadas entre si e contribuem para se obter uma melhor estimativa do QI. O termo “inteligência fluida” é o que melhor expressa as capacidades definidas anteriormente por Gottfredson e também é o que melhor expressa o que queremos dizer ao usar o termo “inteligente” O fator g refere-se a esse tipo de inteligência e é um fator comum avaliado nas centenas de teste de QI, e que sempre está altamente relacionado com as outras dimensões da inteligência7.
Os conhecimentos atualmente disponíveis sugerem que o tema pode ser abordado com mais proveito analisando três conjuntos de capacidades e habilidades relacionadas:
(a) a inteligência – ou seja, a capacidade cognitiva, fundamental para o desempenho acadêmico e para o sucesso em várias dimensões da vida;(b) as habilidades socioemocionais – que também incluem o que chamamos de virtude, caráter e traços de personalidade;(c) as habilidades de autocontrole – também denominadas de “controle executivo”, essenciais tanto para o desenvolvimento cognitivo quanto para o desenvolvimento socioemocional.
Observe que usamos a palavra capacidade para nos referir à inteligência e o termo habilidades para nos referir às demais características. O foco desta série será a inteligência. Os demais itens serão abordados apenas para ressaltar suas relações com esse tema.
Muitos críticos usam a seguinte definição: “inteligência é o que medem os testes de QI”. Embora parece prática e ingênua, esta é uma tentativa de invalidar a realidade do conceito, relativizando a sua importância. A existência da inteligência é tão real quanto são conceitos como o da relatividade ou da gravidade8. Os testes de QI medem essa capacidade, e isso é comprovado e integra o paradigma predominante adotado pelos cientistas que estudam o tema.
Para ler e assistir…
O livro de Michael Crichton, O Enigma de Andrômeda, ilustra como um grupo de pesquisadores de áreas totalmente diferentes do conhecimento foram convocados para debelar um risco de contaminação de altas proporções. Eles foram escolhidos pelo seu nível de inteligência fluida, não pelo seu conhecimento específico de microbiologia. No filme Perdido em Marte (2015), o personagem vivido pelo ator Matt Damon ilustra um alto nível de inteligência cristalizada, que ele usa para sobreviver em Marte até que chegue o socorro. |
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Na próxima semana…Qual o estado da discussão sobre inteligência? Até onde foram os mais importantes pesquisadores do tema? |
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