Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.
Outras inteligências – elas existem mesmo? | Capítulo 4
Antes de mais nada, é essencial que qualquer discussão sobre inteligência seja conduzida com rigor, especialmente quando se trata de progresso científico. Nos textos anteriores, utilizamos uma definição comum de inteligência, com variações da definição de Linda S. Gottfredson e do manifesto de cientistas publicado no The Wall Street Journal. Ambas as versões afirmam que a inteligência envolve a capacidade de raciocínio, planejamento, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizado rápido e a capacidade de aprender com a experiência.
O Surgimento das “Inteligências Múltiplas”
No entanto, ao falarmos de talentos específicos ou ao utilizar o termo inteligências múltiplas, estamos tratando de outro conceito, com outra abordagem. Por razões científicas, ou muitas vezes ideológicas e comerciais, diferentes pesquisadores começaram a propor a existência de outras inteligências no início do século passado. As teorias mais conhecidas atualmente incluem a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner e a teoria da inteligência emocional de Daniel Goleman. Contudo, essas teorias não são amplamente aceitas na comunidade científica.
Howard Gardner e a Teoria das Inteligências Múltiplas
Por exemplo, Howard Gardner, após reações adversas às suas proposições iniciais, retirou da pauta a ideia de inteligências múltiplas. Atualmente, nenhum artigo científico de destaque menciona os trabalhos de Gardner ao discutir inteligência, o que reflete a falta de reconhecimento científico dessa teoria. Em outras palavras, a teoria das inteligências múltiplas não conseguiu se consolidar como um conceito válido dentro da comunidade científica.
Daniel Goleman e a Teoria da Inteligência Emocional
De forma similar, Daniel Goleman, embora tenha popularizado a inteligência emocional, nunca formalizou uma teoria científica robusta sobre o tema. Seus conceitos são amplamente genéricos e etéreos, não atendendo aos critérios necessários para serem considerados cientificamente válidos. Goleman acabou encontrando mais sucesso em livros de autoajuda, em vez de publicações acadêmicas.
As Propostas de Sternberg e a Relação com o QI
Contudo, existem propostas científicas mais robustas, como as formuladas por Robert Sternberg, que apresentou conceitos de inteligência prática e criatividade. Esses conceitos, embora interessantes, são mais facetas ou dimensões de características associadas à inteligência clássica. Quando aplicados em testes de QI, eles aumentam o poder preditivo desses testes, mas não desafiam nem alteram significativamente o entendimento tradicional sobre inteligência. De fato, a forte correlação entre esses conceitos e o QI apenas reforça a ideia de que o QI continua sendo o paradigma predominante na ciência da inteligência.
A Intolerância Científica à Mudança no Conceito de Inteligência
Em resumo, apesar das propostas alternativas sobre diferentes tipos de inteligência, como as sugeridas por Gardner e Goleman, essas abordagens não conseguiram desafiar ou modificar a definição convencional de inteligência baseada no QI. A relação estreita entre essas propostas e as medidas de QI apenas reforça a necessidade de se manter o conceito de inteligência amplamente aceito, como descrito na literatura científica.
Referências bibliográficas:
9: Sobre conceitos de inteligência prática e criatividade ver:
• Sternberg, R.J. (2006) The Rainbow Project: Enhancing the SAT through assessments of analytic, practical, and creative skills. Intelligence, 34, 321-350.
• Sternberg, R.J. (2007). Finding students who are wise, practical and creative. The Chronicle of Higher Education, p B11.
Na próxima semana…
O que a inteligência tem a ver com educação? Por que este é um tema importante para os educadores e para a sociedade? |