Nesta semana, o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araujo e Oliveira, escreveu em sua coluna quinzenal no site da revista VEJA sobre as características dos professores que impactam positivamente o aprendizado de seus alunos. O debate é rico – e, por vezes, controverso. Por isso, colocamos o tema em pauta aqui neste espaço
A pergunta não é nova. Ela é tão antiga quanto a tarefa de ensinar. Ao longo dos anos, alguns estudos buscaram identificar e sistematizar as características do bom docente. As pesquisas mais consistentes são unânimes em dizer que não há uma receita para ser um professor excelente – mas as experiências bem sucedidas dão pistas de como chegar a essa posição.
Parte do problema é que a tarefa de ensinar muitas vezes é retratada como algo mágico e enigmático, com a ideia de um professor super-herói que irá salvar a escola. Há, é claro, algo especial na ideia de transmitir conhecimentos às crianças, mas não significa que a docência seja mais mágica que outras profissões. Alguns professores são rotineiramente mais bem-sucedidos do que outros – e a ciência vem tentando prever quem provavelmente será mais eficaz logo no início da carreira.
Uma pesquisa recente da Universidade de Colorado (EUA), por exemplo, seguiu 3.000 professores americanos durante os cinco primeiros anos de carreira e mostrou que o desempenho na fase mais inicial da vida docente pode ser um forte fator pré-determinante para toda a vida profissional do educador. Isolando fatores como condições socioeconômicas dos alunos e localização das escolas, a pesquisa mostrou que os professores que tiveram uma performance inicial boa, garantindo o aprendizado de seus alunos, estavam mais pré-dispostos a manter esse perfil em longo prazo. O mesmo foi detectado com os professores ruins, que tendem a repetir esse padrão ao longo de sua trajetória profissional.
Para os pesquisadores responsáveis pelo estudo, gestores públicos e profissionais ligados à formação de professores devem levar em conta o desempenho dos professores logo nos primeiros anos para evitar que más práticas de ensino sejam perpetuadas ao longo dos anos. Além disso, destacam a necessidade de recrutar os melhores alunos dos cursos de licenciatura para o quadro de funcionários das escolas afim de ampliar a excelência da carreira docente. Países como Coreia do Sul, Finlândia, Cingapura e Hong Kong, por exemplo, recrutam seus professores entre os 5% a 30% melhores alunos do Ensino Médio.
O mesmo alerta também foi feito pelo pesquisador britânico Roger Beard, da Universidade de Londres. Beard esteve no Brasil em 2015 a convite do Instituto Alfa e Beto e palestrou sobre os desafios da formação docente em nosso XVIII Seminário Internacional. Na ocasião, Beard apresentou evidências mostrando que uma maneira de detectar bons professores no início da carreira é através do diálogo entre a formação inicial e as escolas. “As universidades que trabalham em conjunto com escolas podem influir positivamente no começo da carreira do professor, porque nós precisamos de um conhecimento especializado da aplicação do que ensinamos ao mundo real”, defendeu. (Assista à palestra completa de Roger Beard abaixo.)
Outra pesquisadora renomada nesse campo de estudo, professora Katherine Merseth, esteve no Brasil nesta semana e também abordou o assunto. Em palestra no Instituto Singularidades, de São Paulo, a diretora do programa de formação de professores da Escola de Educação da Universidade Harvard falou sobre como transformar a carreira dos professores em nosso país e afirmou que um dos principais caminhos para atingir este objetivo é garantir que as políticas públicas nessa área sejam tomadas em função dessas evidências. “A formação de um bom docente passa por avaliação de experiências de sucesso nacionais e internacionais, trabalho de apoio entre os pares com programas de coaching e, acima de tudo, o recrutamento de jovens com melhor desempenho acadêmico para a carreira docente”, defendeu em sua fala.
Segundo as evidências apresentadas em sua palestra e amplamente conhecidas, um bom professor é aquele que domina os conteúdos teóricos de sua área (Matemática, Línguas ou Ciências, por exemplo), mas que ao mesmo tempo detêm conhecimentos pedagógicos e métodos de ensino para passar esse conhecimento a seus alunos – nesse quesito, estágios probatórios e iniciais supervisionados, bem como mentoria com professores experientes impactam positivamente. Ela também defendeu que um bom educador deve ter conhecimentos sobre teorias de aprendizagem e cognição, incluindo neurociência e psicologia, para que possa encontrar práticas adequadas de ensino.
Como é possível notar por meio dessas pesquisas, não há fórmula mágica para determinar quem será um bom professor, mas há evidências bastante consistentes de que os melhores são aqueles com boa formação inicial e domínio de determinadas estratégias de ensino que comprovadamente facilitam a aprendizagem.
Quer saber mais sobre esse tema? Faça ao download do livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em educação, que traz um capítulo sobre políticas de formação de professores e referências de outros estudos acadêmicos que discutem as características do bom professor.
Assista também ao vídeo com a palestra de Roger Beard sobre formação de professores no XVIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto: |