O presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), João Batista Araujo e Oliveira, proferiu duas palestras no dia 18 de julho, em Petrolina (PE), ambas destinadas a professores, coordenadores pedagógicos e diretoras de escolas, que lotaram o auditório do Senai. Os eventos contaram com a presença de autoridades e técnicos da Prefeitura de Petrolina, incluindo a Secretaria Municipal de Educação, Maéve Melo.
Na primeira apresentação, “Educação Infantil”, voltada para os profissionais de educação do município que atuam na pré-escola, o professor João Batista falou sobre porque e como a escola pública pode fazer diferença na vida das crianças. Ele apresentou dados, conceitos e instrumentos que podem ajudar os educadores a promover o desenvolvimento infantil, à luz das evidências na área, da Psicologia do Desenvolvimento e das propostas da Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
O palestrante resumiu em uma frase o objetivo da educação infantil: preparar para a vida e para a escola. Em seguida, perguntou: mas o que é preparar para a vida? “Nosso papel é ajudar as crianças a se desenvolver em seus aspectos cognitivo, físico, pessoal, social e emocional. É prover segurança para que o processo de desapego e de independência se desenrole de forma adequada. Nascemos frágeis, desprotegidos e dependentes, com um cérebro que precisa de muitos cuidados e estímulos”, disse.
Foco, autocontrole e curiosidade – O presidente do IAB também frisou que a pré-escola deve reforçar o autocontrole, ensinar foco e instigar a curiosidade das crianças. “Para isso, os educadores devem apresentar tarefas interessantes e valorizar a dimensão da curiosidade – em vez de só elogiar um desenho dizendo, por exemplo, “que lindo!”, devem perguntar “por que você pintou essa parte de azul?”. As crianças também devem aprender a se concentrar – em períodos de tempo progressivamente maior – e a se autocontrolar. As evidências mostram que quem não entra na escola com esse comportamento costuma sofrer discriminação por parte dos professores”, alertou.
Outro ponto destacado na apresentação foi a importância das conversas e brincadeiras com as crianças. “Brincar e conversar de forma apropriada são a base de uma educação de qualidade. O raciocínio da criança na primeira infância é diferente do raciocínio indutivo e dedutivo das crianças mais velhas – a forma de aprender das crianças mais novas é brincando. Brincar não é só um “direito”, como defendem alguns, é o modo de aprender, que envolve persistência, esforço, repetição, experimentos e tentativas. Brinquedo não é necessário para brincar. Além da curiosidade natural, é necessário um ambiente com estímulos adequados e oportunos. O bom educador infantil sabe conversar com a criança, a conhece, a respeita e a estimula. É importante que ele fale com a criança como adulto para que ela saiba que não está falando com outra criança”, lembrou.
De acordo com João Batista, a pré-escola também deve estabelecer os alicerces para uma boa alfabetização. “É importante entrar no primeiro ano conhecendo as letras e já tendo contato com livros. Sabemos que uma pré-escola é bem-sucedida quando a criança fica doida para entrar na escola, para aprender a ler sozinha. Assim ela não ficará na dependência dos adultos para lerem as histórias para ela. Então, temos que lhe dar os instrumentos básicos para que ela chegue no primeiro ano preparada para ser alfabetizada”, complementa.
Alfabetização – Já na palestra seguinte, direcionada para os profissionais que atuam no 1º ano do Ensino Fundamental, João Batista abordou o que pode ser feito para assegurar a alfabetização dos alunos. A apresentação foi iniciada com a análise dos avanços de Petrolina na Prova Brasil (5º ano) – a cidade registrou avanços nos últimos anos e tem notas acima da média nacional e de Pernambuco. Em um teste aplicado ao final dos anos letivos, também se observou que a maioria das crianças – chegando a 90% na maioria dos anos – domina as competências esperadas.
Em seguida, o presidente do IAB chamou a atenção para o fato de ainda se estar falando de alfabetização em 2017. “Isso deveria ser uma página virada no final do século XIX”, disse. Ele insistiu na necessidade de se diferenciar os conceitos de ler e escrever dos conceitos de aprender a ler e aprender a escrever – que constituem o cerne da alfabetização.
Também citou os conceitos de Philip Gough – a visão simples e complexa de alfabetização – e deteve-se em explicar a conceituação proposta por José Morais em um trabalho publicado recentemente na Revista Language Cognition e Neuroscience. Morais, em seu artigo, fala do “alfabetizado produtivo” (que corresponde ao conceito tradicional de alfabetização, que deve ser realizada até o final do 1o ano escolar); do “alfabetizado argumentativo” (que corresponde ao nível 4 do PISA); e do “alfabetizado criativo” (correspondente aos níveis 5 e 6 do Pisa). “Misturar esses conceitos ou atribuir à alfabetização outros encargos só vem contribuindo para prejudicar os alunos”, disse.
Autor de metodologias de ensino voltadas para crianças desde a pré-escola até o 5º ano do Ensino Fundamental, João Batista falou, ainda, sobre como opera a cabeça das crianças e porque o método fônico apresenta bons resultados no processo de apreensão do código alfabético. “A criança deve aprender uma coisa de cada vez, no seu tempo e ritmo. Um dos problemas da alfabetização no Brasil é querer fazer tudo ao mesmo tempo e não se fazer nada direito”, disse.
Segundo o especialista, depois da alfabetização começa o processo de desenvolvimento da fluência em leitura, que precisa ser feito e que se estende aproximadamente até o 6º ano. “Depois que a criança aprende a ler e se torna fluente em leitura, o próximo passo é usar essa habilidade para adquirir conhecimentos e habilidades ao longo da vida para compreender textos cada vez mais complexos. Esse processo não tem fim – a alfabetização tem, e o essencial da alfabetização deve ser concluído ao final do 1o ano escolar”, reiterou.
Na foto de destaque, ao lado esquerdo de João Batista Oliveira, está a secretária de educação de Petrolina, Maéve Melo.