A Meta de Alfabetização no Plano Nacional de Educação
Antes de tudo, o Plano Nacional de Educação (PNE), enviado ao Congresso em 2010, distribuiu diretrizes e metas para a educação no Brasil. Entre essas metas, uma das mais debatidas refere-se à idade de alfabetização. O projeto original previa que as crianças eram alfabetizadas até os 8 anos, mas o relator Álvaro Dias foi derrotado no limite para 7 anos, com a meta de atingir 6 anos ao longo dos primeiros cinco anos do plano. Contudo, uma proposta subsequente alterou o prazo para 10 anos, uma mudança que gerou inquietação entre especialistas e educadores, que compartilham a alfabetização tardia um retrocesso.
Por que alfabetizar mais cedo?
Acima de tudo, especialistas defendem que a alfabetização deve ocorrer o mais cedo possível. Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, alerta que a educação infantil precisa começar cedo, na pré-escola, para estimular o desenvolvimento de habilidades como vocabulário, essenciais para o aprendizado futuro. Além disso, ele ressalta que a pré-escola precisa oferecer uma educação de qualidade, um fator crítico que, infelizmente, nem sempre é distribuído nas instituições públicas. Em contrapartida, uma pré-escola contém limita o desenvolvimento inicial das crianças e compromete o impacto positivo de uma educação básica de qualidade.
A Discrepância entre a Educação Pública e Privada
Analogamente, a especialista em políticas públicas educacionais Ilona Becskeházy defende a alfabetização aos 6 anos, prática comum em escolas privadas. Para ela, enquanto o sistema público de ensino adia a alfabetização, as crianças de escolas particulares já estão lendo e escrevendo aos 6 anos, muitas vezes com autonomia. Em outras palavras, essa diferença gera uma disparidade de oportunidades educacionais entre estudantes de diferentes contextos socioeconômicos. Em resumo, adiar a alfabetização no ensino público prejudica o desempenho escolar e contribui para a evasão escolar nos anos subsequentes.
A Influência das Pressões Políticas
Agora, ainda que o governo federal invista bilhões para garantir a entrada das crianças na escola a partir dos 4 anos, pressões políticas e regionais influenciam o adiamento da meta de alfabetização. Os prefeitos, principalmente do Nordeste, resistem ao estabelecimento de metas rigorosas de alfabetização aos 6 anos, temendo uma pressão adicional para cumprir essas diretrizes. Contudo, até os mesmos apoiadores do governo já autorizam que a meta de alfabetizar até os 8 anos é inconveniente. Nesse sentido, a decisão de postergar a alfabetização atende aos interesses políticos, deixando de lado o impacto educacional.
Impacto do Atraso na Alfabetização e Perspectivas Futuras
Por fim, o impacto de uma alfabetização atrasada vai além do desempenho escolar. De acordo com Ilona Becskeházy, nas comunidades mais cuidadosas, as mães frequentemente pagam por reforços para que seus filhos aprendam a ler e escrever até os 6 anos, buscando iguais oportunidades de crianças em escolas particulares. Concluindo, a prática de adiar a alfabetização coloca o Brasil em uma posição de atraso educacional em comparação com países mais desenvolvidos. Portanto, para realmente avançar, o país precisa adotar políticas educacionais que promovam uma alfabetização mais precoce e eficaz, investindo em qualidade desde a educação infantil.