Dentre as metas para os primeiros 100 dias de governo, a única da área da educação trata de alfabetização. Vem polêmica por aí. Eis o que diz o texto: Alfabetização Acima de Tudo: lançamento de um programa nacional de definição de soluções didáticas e pedagógicas para alfabetização, com a proposição de método para redução do analfabetismo a partir de evidências científicas.
Há cerca de 20 anos – na contramão das propostas oficiais, venho estudando o tema, produzindo materiais de alfabetização e avaliando sua implementação em centenas de municípios brasileiros. Os resultados colhidos ao longo do tempo mostram, de maneira inequívoca, que é possível alfabetizar as crianças de escolas públicas típicas do país ao final do 1o ano do Ensino Fundamental.
Também demonstramos que uma alfabetização rigorosa pode ter impactos que aparecem até na Prova Brasil do 5o ano. Isso exige muito mais do que métodos – exige uma concepção clara das habilidades a ensinar, um entendimento embasado dos procedimentos, materiais adequados aos alunos, orientações e apoio adequados aos professores e um competente sistema de gerenciamento, com base em dados coletados de maneira sistemática.
Leia também: As 100 palavras mais usadas nos livros infantis
Isso significa que, para avançar, será necessário mexer, no curto prazo, na BNCC – Base Nacional Curricular Comum, no PNLD – Programa Nacional do Livro Didático, na ANA – Avaliação Nacional da Alfabetização e no Programa Mais Alfabetização. No médio prazo, será necessário que os professores alfabetizadores conheçam as evidências científicas e saibam usar as práticas por elas recomendadas.
O tema da alfabetização é, de longe, o mais pesquisado entre todos os temas na área da educação. As evidências são robustas o suficiente para orientar as políticas governamentais – e isso, de fato, aconteceu na maioria dos países da OCDE ao longo dos últimos 30 anos. E em todos os países onde essas mudanças foram implementadas, o processo de implementação foi sempre difícil e, em vários deles, alvo de grandes contestações e, certamente, de muita inconsistência. Mas os resultados vieram – na Inglaterra levou 10 anos para aparecerem, mas desde então os avanços são impressionantes.
A necessidade é premente. O desafio é enorme. A resistência será feroz. Resta torcer para que o governo tenha competência para articular propostas consistentes e inclusivas, habilidade para conquistar alianças para implementá-las de forma adequada, consistência nas suas políticas e práticas, e paciência para dar tempo de ver os resultados aparecerem.
(Esse texto foi publicado originalmente no Blog Educação em Evidência, que o Prof. João Batista Oliveira mantém em Veja.com)
Siga também o Prof. João Batista Oliveira no LinkedIn e no Twitter.