- O que é. Uma estratégia comprovadamente mais eficaz para ensinar o código alfabético consiste em ensinar o princípio fônico, ou seja, associar os fonemas com os grafemas (letras ou dígrafos) que os representam. Os métodos que procedem dessa forma são denominados de métodos fônicos. A alfabetização é mais eficaz quando os fonemas e grafemas são apresentados de maneira sistemática e explícita. Sistemática significa seguindo uma determinada ordem, de acordo com o critério estabelecido pelo autor (ou pelo professor). Normalmente as práticas que vão do mais simples para o mais complexo são as mais eficazes. Explícito significa que cada relação entre fonema e grafema precisa ser explicitada. Depois do ensino de algumas dessas associações – ou relações – as crianças adquirem o Princípio Alfabético, ou seja, entendem que a relação de fonemas com grafemas obedece a algumas regularidades. A maioria das crianças precisa de apoio sistemático para aprender todas as relações. Algumas crianças – muito poucas – são capazes de deduzir, inferir e adquirir as demais relações por conta própria, por meio de auto-ensino.
- Como se alfabetiza usando métodos fônicos. Listamos abaixo os procedimentos usuais no uso do método fônico:
- Apresentar de forma sistemática e explícita as correspondências grafema – fonema:
- Sistemática: seguindo uma determinada ordem.
- Explícita: mostrando à criança os grafemas (letras) que correspondem ao fonema sendo estudado de cada vez.
- Grafemas: são as letras que representam fonemas, o fonema /R/ pode ser representado por uma letra (R) ou um dígrafo (RR).
- Fonemas: são os elementos sonoros que nos permitem identificar os diferentes sons que compõem uma palavra. Por exemplo, a palavra GATO possui quatro fonemas, a palavra SIM possui dois fonemas.
- Uma vez decidida a ordem de ensino, são escolhidas palavras que contêm esses fonemas/grafemas para praticar a identificação e “manipulação” dos fonemas, isto é, identificar os fonemas em diferentes lugares da palavra (princípio, meio, fim) por meio de atividades de análise (decompor) e síntese (juntar os fonemas para formar as palavras).
- No processo de alfabetização o foco deve ser nas palavras – e não em textos.
- É essencial que o aluno seja capaz de ler “pseudopalavras”, isto é, palavras sem sentido: esta é a única maneira dele comprovar que usa as técnicas de decodificação, e não o contexto ou o sentido para ler.
- Na medida em que o aluno já identifica algumas conexões entre vogais e consoantes, ele deve receber textos decodificáveis. Isto é, em que todas ou a maioria das palavras são formadas pelos grafemas que ele já sabe ler, ou seja, “decodificar”.
- O ensino da leitura e da escrita deve progredir ao mesmo tempo – aprender a decodificar (ler) e codificar (escrever).
- Lembrete importante: Alfabetizar é apenas parte do processo de ensinar a ler. Há um conjunto de outras habilidades – linguagem oral, redação, vocabulário, compreensão de textos, caligrafia – que devem ser desenvolvidas em paralelo (mas não no mesmo momento).
- Os métodos fônicos são mais eficazes? Os métodos fônicos são mais eficazes porque são consistentes com a forma como o cérebro processa os estímulos associados à leitura e escrita. Eles são compatíveis com a maneira como o cérebro processa as informações grafo-fonológicas associadas ao processo de leitura e escrita (Dehaene, 2012).A comprovação da eficácia dos métodos fônicos se faz por meio de pesquisas científicas controladas e cujos resultados cumulativos são analisados por meio de um procedimento denominado “meta-análise”. A meta-análise é usada porque estudos isolados não são suficientes para comprovar a eficácia de uma intervenção: a meta-análise permite agregar os dados de diferentes estudos e compará-los usando uma métrica comum. Os estudos mais abrangentes que comprovam a eficácia e superioridade dos métodos fônicos foram publicados por Adams (1990).As meta-análises mais abrangentes foram publicadas pelo National Reading Panel Report (2000), Ehri (2003) https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED479646.pdf e National Early Reading Panel Report (2008), e também revistos por McGuinness (2005). Os métodos fônicos são particularmente mais eficazes para alunos provenientes de níveis socioeconômicos desfavoráveis. Uma extensiva revisão da literatura sobre o tema foi publicada em 1998 (Snow, C.E.; Burns, M.G. &Griffin, P. 1998).
Veja mais publicações do Instituto Alfa e Beto sobre o tema clicando aqui.