Nota do Instituto Alfa e Beto:
Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo
As notas desta rodada do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não são muitos diferentes das outras. A única mudança foi em relação às séries iniciais. Fora isso, tem sido mais ou menos como sempre e não houve mudança no padrão de crescimento. Não poderia ser diferente: não há nada em curso no País que justificasse uma piora ou melhora significativa.
O ensino médio só vai melhorar quando houver melhora na qualidade dos que chegam lá. Hoje só parte dos alunos do 9º ano estão preparados para avançar. Quem vai entrar no ensino médio daqui a quatro anos é essa turma que está terminando o nono ano agora. A metade desses alunos hoje não está no nível adequado e isso leva muito tempo. No setor privado também está estagnado.
A segunda condição é realmente diversificar o ensino médio, criar opções. O ensino médio acadêmico exige cabedal de conhecimento e uma coisa sem a outra não vai resolver.
Se observarmos o que acontece na evolução da Prova Brasil, nós tivemos uma melhoria de mais ou menos 40 pontos nas séries iniciais, pouco menos de 15 nos anos finais e quase nada de ensino médio. Ao longo de dez anos. Possivelmente o que está influenciando nos anos finais é que estes são mais afetados pelo que acontece no ambiente externo à escola. Há uma melhoria do nível socioeconômico da população, melhoria da escolaridade das mães, aumento nos anos de escolaridade e houve aumento de um ano no ensino fundamental. Não conheço nenhuma política educacional importante no País ou no Estado que tenha contribuído para mudar significativamente o estado das coisas.
Existem exceções, com redes estaduais e municipais que melhoram, mas nunca em todas as etapas. O que isto sugere? Que não existe uma política comum em funcionamento. O que há é espaço para políticas próprias interessantes, que não fazem parte de um entendimento mais global do que seja uma reforma educacional.
E o que é necessário para mudar? São cinco as grandes etapas de qualquer processo educativo: currículo, professores, ensino, avaliação e apoio aos alunos que não conseguem aprender.
Destas, a variável mais importante é o professor. Não existe hoje, no Brasil, uma política capaz de atrair pessoas bem formadas no ensino médio para ser professor. Enquanto não entendermos que essa questão é fundamental, nada vai mudar. No curto prazo, a reforma do ensino médio é importante, mas não vai resolver tudo de uma vez.
(Crédito da imagem: Agência USP)