Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo
Não adianta aumentar a oferta e caprichar no currículo. Para os educadores, o interesse do aluno pelo ensino técnico vai crescer na mesma proporção em que se combater a falsa convicção de que o sucesso no mercado de trabalho está associado ao diploma no ensino superior.
“Essa ideia de que todo mundo tem de ter universidade é equivocada. A economia precisa de outras expertises de formação”, diz João Batista, presidente do Instituto Alfa e Beto. “O cara que pode fazer universidade e não faz tem uma perda grande. Mas quem não podia e fez tem uma perda muito maior. Sacrificamos todos os alunos no altar da universidade.”
O especialista se refere à frustração daqueles que, mesmo sem vocação acadêmica e com pouco dinheiro, apostam todas as fichas em uma graduação que pode não lhes render nada. Se essas mesmas pessoas tivessem optado pelo ensino médio técnico, poderiam ter entrado antes e com mais sucesso no mercado de trabalho.
“O jovem precisa saber que existe alternativa e que ela está ligada ao ensino profissional”, afirma Gustavo Leal, diretor de operações do Senai Nacional – braço do Sistema S que possui metodologia para prever as profissões exigidas pelo mercado em um horizonte de cinco a dez anos e, a partir disso, montar a oferta de cursos técnicos em cada região do país.
“Além do que, nada impede que esse profissional continue sua trajetória pelo viés do curso superior de tecnologia e que faça até um mestrado e um doutorado”, afirma.
LEI DA APRENDIZAGEM
Criada para incentivar a contratação de alunos do ensino técnico, a Lei da Aprendizagem, em vigor desde 2000, ainda enfrenta obstáculos para sair do papel.
Pelo lei, empresas de médio e grande porte são obrigadas a contratar de 5% a 15% de jovens aprendizes em regime de trabalho ou estágio.
O problema, diz Walter Vicioni, diretor do Senai-SP, é uma norma do Ministério do Trabalho, de 1978, que fixa que “operadores de máquinas e equipamentos devem ser maiores de 18 anos, salvo na condição de aprendiz”.
“Existe uma incoerência legal para os alunos que se diplomam aos 16 anos e querem trabalhar.” Só em 2015, 66% dos alunos que se formaram no Senai-SP tinham até 17 anos.