A Realidade da Educação Brasileira
Em 2006, um ministro finalmente reconheceu que a qualidade da educação no Brasil era deplorável, com base nos resultados da Prova Brasil. Recentemente, porém, a propaganda oficial mudou drasticamente essa narrativa. A confusão entre sombras e realidade nos mantém na caverna de Platão. O Ideb, indicador do desempenho da educação brasileira, mistura taxas de aprovação com notas dos alunos da Prova Brasil. Melhorar as taxas de aprovação é importante, mas o verdadeiro indicador de qualidade deve se refletir nas notas.
Flutuações Estatísticas e Manipulações
Todos que conhecem estatística conseguem distinguir flutuações de tendências. Na Prova Brasil, variações inferiores a seis pontos representam apenas ruídos estatísticos. Em sete aplicações da prova, sempre houve flutuações nas notas de português e matemática. Em 2007, todas as flutuações foram positivas, mas apenas uma foi relevante: matemática na quarta série, com 11 pontos. Não podemos atribuir isso a uma política específica, mas talvez à homogeneidade na idade dos alunos.
O gráfico da propaganda oficial comete dois erros graves. Primeiro, sugere um declínio antes de 2003, o que os dados não suportam. Segundo, aponta um aumento a partir de 2005, sugerindo uma tendência inexistente. Manipulam a inclinação das curvas e o tamanho dos degraus para iludir sobre os progressos rumo ao desenvolvimento.
O Desafio de Reformar a Educação
A propaganda oficial prejudica o trabalho do ministro da Educação ao minimizar a gravidade do problema educacional. Prefeitos e autoridades estaduais comemoram melhorias ínfimas no Ideb, baseadas principalmente em mudanças nas regras de promoção. Dos 84 Idebs, apenas 14 mostraram mais de 5% de melhora, sendo a maioria em estados onde é mais fácil melhorar devido aos baixos dados de base.
A experiência internacional oferece lições valiosas sobre como realizar uma reforma educacional bem-sucedida. Formar um consenso sobre os problemas é essencial. Enquanto tentamos consolidar essa convicção, nos iludimos com falsas promessas de progresso. Mascarar a gravidade da situação não ajuda. Sugerir que estamos no caminho do sucesso é puro ilusionismo.
Nota do Instituto Alfa e Beto: Este artigo foi publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.