Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo faz parte de uma série de artigos publicados no site Veja.com no âmbito da parceria no Prêmio Prefeito Nota 10, instituído pelo Instituto Alfa e Beto
Há menos de 20 anos, as pré-escolas eram poucas no Brasil, e a maioria dos alunos da escola pública nunca havia frequentado uma delas. Hoje, quase 90% das crianças frequentam a pré-escola, mas isso não está se refletindo na Prova Brasil. E isso deveria estar acontecendo. Há algo errado.
Não é difícil entender. A pré-escola foi implementada às pressas, sem preparar um programa de ensino, sem formar professores, sem preparar o ambiente e prover recursos adequados. Simplesmente, surgiu como puxadinhos aqui e ali. De repente, a pré-escola que era de três anos passou a ter somente dois – o último ano foi incorporado ao ensino fundamental. Tudo no melhor estilo da improvisação, na concepção de que somos capazes de trocar o pneu com o carro andando.
Pré-escola não é assunto de criança, é coisa para gente grande – e séria. Uma pré-escola mal idealizada corre dois riscos – representados pelos dois modelos extremos que foram implementados. O primeiro é o de roubar uma parte importante da infância, colocando as crianças muito cedo num ambiente que de fato lembra uma escola: alunos em carteiras enfileirados durante 4 horas. Isso não é pré-escola, é violência infantil. O segundo é perder o tempo da criança, que ao invés de ficar brincando livremente é confinada a locais onde não se aprende nada ou, pelo menos, que não geram efeitos esperados no desempenho escolar posterior.
Como buscar o equilíbrio? Como deve ser uma boa pré-escola?
A resposta é simples de entender, difícil de implementar. O ideal da pré-escola é combinar um currículo rico e rigoroso com uma implementação flexível. Isso significa prever atividades adequadas à faixa etária de 4 e 5 anos e apresentá-las às crianças de forma lúdica, pois criança dessa idade aprende melhor brincando e experimentando. Significa que uma criança pode passar parte importante do seu dia fazendo o que gosta – e a outra parte deve aprender a gostar de participar de outras atividades que são importantes para o seu desenvolvimento. E isso requer espaço adequado e pelo menos dois adultos devidamente qualificados para cada grupo de 15 a 20 crianças.
Dificilmente se faz uma boa escola apenas com os recursos do Fundeb. Daí a dificuldade de o Brasil fazer qualquer coisa de qualidade: queremos fazer tudo correndo, ao mesmo tempo. Com isso, a pré-escola não é adequada para cumprir a sua finalidade.
Tanto na Primeira Infância quanto na pré-escola a saída está na busca de formas alternativas de atendimento, que requerem estratégias apropriadas às diferentes circunstâncias locais, mas que necessariamente incluem a participação das famílias, de parcerias com instituições da sociedade civil e, de preferência, da juventude.