Desafios na Qualidade da Educação
O Globo destacou, em 12 de dezembro, que as metas para educação no Brasil estão longe de serem atingidas. Embora haja alguns avanços formais, a qualidade ainda é um grande desafio. A questão não é apenas se as metas são adequadas, mas se estamos no caminho certo. No caso da cidade do Rio de Janeiro, a situação é alarmante.
A distribuição das matrículas revela duas grandes distorções. Primeiro, há um represamento significativo de alunos na 4ª série, possivelmente devido à política de promoção automática, que resulta em reprovações em massa ao final de um ciclo. Na 6ª série, há 98 mil matrículas, mas na 9ª série, apenas 65 mil, indicando uma alta taxa de deserção, frequentemente associada ao excesso de reprovação. Portanto, a política de promoção automática não ajustou o fluxo escolar como esperado.
Desigualdade nas Escolas
A maior preocupação, no entanto, reside na qualidade. No final da 4ª série, a média dos alunos cariocas na Prova de Língua Portuguesa foi de 177 pontos, igual à média nacional. Entre as 744 escolas, 234 estão bem abaixo dessa média, comparáveis aos estados mais atrasados do Nordeste. Outras 210 escolas situam-se entre 170 e 180 pontos. Apenas 58 escolas estão acima de 200 pontos. Isso significa que, em apenas 58 escolas públicas do Rio de Janeiro, metade dos alunos da 4ª série possui o nível mínimo de escrita previsto pelas metas.
Além disso, a variação dos resultados das escolas na 4ª série é significativa, de menos de 150 a mais de 230 pontos. Em termos de conhecimento adquirido, essa diferença equivale a seis séries escolares. Portanto, alguns alunos são “condenados” a uma escola com resultados de 150 pontos, enquanto outros são beneficiados com escolas que atingem 220 pontos ou mais. Não há uma garantia mínima de qualidade.
Necessidade de Mudanças Profundas
Essa situação expõe a crise da educação pública brasileira. Embora tenhamos um sistema escolar, na verdade, tudo o que temos é aparência. O Brasil ainda não compreendeu o que é necessário para produzir educação de qualidade. Continuamos insistindo na expansão e em soluções superficiais. Dois aspectos merecem atenção especial: a qualidade dos professores e a gestão escolar.
Precisamos atrair os melhores egressos do ensino médio para o magistério e melhorar a gestão escolar. Atualmente, as secretarias cuidam mais de pedagogia do que de
política educacional, enquanto as escolas lidam com questões políticas, incluindo a eleição de diretores, o que é inconstitucional. Nos países desenvolvidos, a diferença de desempenho dos alunos dentro de uma mesma escola é maior do que entre diferentes escolas. No Rio de Janeiro, os melhores alunos de uma escola pública podem ter um desempenho pior do que os piores alunos de outra, evidenciando uma profunda desigualdade.
Caminhos para Melhorar a Educação
Para que o Brasil melhore a educação, é necessário compreender que ainda não encontrou o caminho certo. Pequenos avanços em metas pouco convincentes não devem criar a ilusão de progresso. Na realidade, estamos avançando em direção ao desastre. Mudar a qualidade da educação no Brasil exige mudanças profundas na concepção e operação das escolas e secretarias de educação. Se continuarmos com a mesma abordagem, os resultados não mudarão.
A troca de governos municipais oferece uma oportunidade para essas mudanças. Quem sabe, é agora o momento de transformar a educação e alcançar as metas de educação que realmente façam a diferença. Somente com uma reestruturação completa e a adoção de políticas eficazes, poderemos garantir uma educação de qualidade para todos os alunos, eliminando as desigualdades e preparando nossos jovens para um futuro melhor.
Investir na formação de professores e na gestão escolar eficiente é essencial. Além disso, é crucial adotar políticas públicas que promovam a equidade, garantindo que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente da escola que frequentem. Com esses passos, poderemos alcançar metas para educação que realmente refletem progresso e qualidade.
Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal O Globo com o título Estamos no Rumo Certo?