Alfabetização: A Urgência de Parâmetros Claros do MEC
Um mês após o lançamento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, o Ministério da Educação já conta com a adesão de 19 estados e 3.300 municípios. Em primeiro lugar, o pacto visa alfabetizar as crianças até aos 8 anos, ao final do 3º ano do ensino fundamental. No entanto, os especialistas apontam que falta uma definição clara sobre o nível de conhecimento esperado dos alunos em cada um dos três primeiros anos. Sem essa orientação, as crianças das escolas públicas podem sofrer prejuízos.
Desigualdade na Alfabetização entre Classes Sociais
O Censo do IBGE revela uma disparidade significativa entre crianças de diferentes classes sociais. Entre as crianças de famílias com renda per capita superior a R$ 1.020, 83% já estão alfabetizadas aos 6 anos. Em contrapartida, entre as famílias mais pobres, com renda per capita abaixo de R$ 128, apenas 42% atingem esse nível.
Além disso, aos 10 anos, o analfabetismo quase desaparece entre as crianças ricas (1%), mas ainda é de 14% entre as mais pobres. Esses dados reforçam a necessidade de políticas educacionais que garantam oportunidades iguais para todas as crianças.
A Necessidade de Definir Alfabetização
João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, defende que crianças de 6 anos tenham plena capacidade de entender o código alfabético e aprender como letras transcrevem filhos. Para ele, a falta de uma definição clara de “alfabetização” compromete o objetivo do pacto.
— Alfabetizar é entender como o alfabeto funciona. Isso pode ser aprendido em poucos meses, e é o que ocorre nas escolas particulares, onde a alfabetização acontece aos 6 anos. No entanto, o MEC ainda não especifica claramente o que significa alfabetizar — afirma Oliveira.
Impacto da Falta de Direcionamento para Professores
A professora Alessandra Seabra, da Universidade Mackenzie, também expressou preocupação com a falta de esclarecer nas metas. Ela teme que, sem uma definição clara, os professores levaram três anos para ensinar o alfabeto, o que conseguiram concluir em apenas um ano.
Enquanto isso, o secretário de Educação Básica do MEC, Antônio César Callegari, defende que o objetivo é que, aos 8 anos, as crianças não apenas reconheçam o alfabeto, mas saibam construir e interpretar textos e resolver problemas matemáticos.
Formação e Orientação dos Professores
Callegari afirma que o governo finaliza um programa de formação continuada para 315 mil professores alfabetizadores, com orientações claras sobre os direitos e objetivos de aprendizagem em cada etapa dos três primeiros anos do ensino fundamental. Esse programa busca esclarece os direitos de aprendizagem e habilidades que devem ser desenvolvidos ao longo do ciclo de alfabetização.
Desempenho Escolar Futuro
Assim como o MEC, a ONG Todos pela Educação defende que todas as crianças sejam completamente alfabetizadas aos 8 anos, incluindo a capacidade de interpretar textos e entender conceitos básicos de matemática. Em 2011, a ONG realizou uma avaliação que mostrou que apenas 56% das crianças que concluíram o 3º ano atingiram o nível esperado em leitura, e 43% o alcançaram em matemática.
Andrea Bergamaschi, coordenadora-geral da ONG, destaca que a falta de alfabetização na idade certa compromete o desempenho acadêmico futuro das crianças.
Ritmo de Aprendizado e Flexibilidade no Ensino
Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, lembra que cada criança tem um ritmo próprio de aprendizado. Ela considera aceitável que uma criança seja alfabetizada antes dos 8 anos, mas destaca a importância de respeitar esse ritmo.
Preparatório dos Professores: Uma Crítica Necessária
Por fim, o pacto inclui três avaliações para monitorar o desenvolvimento dos alunos, realizadas no início e no final do 2º ano e ao término do 3º ano, além de prever a formação continuada de professores e a distribuição de material didático. No entanto, especialistas criticam a preparação dos professores, afirmando que muitas chegam às salas de aula com pouca experiência prática.
— A formação dos professores ainda está longe do ideal. Muitos educadores possuem conhecimento teórico, mas não estão preparados para aplicar esse conhecimento na prática — conclui Andrea Bergamaschi.