O Instituto Alfa e Beto realizou no dia 16 de julho um evento on-line para analisar o sucesso da política de alfabetização adotada em Teresina (PI). Transmitida pelo canal do Instituto no YouTube, a “live” teve a participação de Kleber Montezuma, ex-Secretário Municipal de Educação do município; da atual Secretária, Kátia Dantas; e do presidente do Instituto Alfa e Beto, professor João Batista Oliveira. A mediação foi feita pela Secretária Executiva de Ensino da SME de Teresina, Irene Lustosa.
Kleber Montezuma, de acordo com a apresentação feita pela mediadora, foi Secretário Municipal de Educação em três gestões no início dos anos 2000, quando “a rede começou a se estruturar de forma bastante organizada para traçar novos objetivos”. Voltou para a Secretaria em junho de 2013 e ficou até junho de 2020, “fechando um ciclo de sete anos dedicados à educação pública da cidade de Teresina”.
Em sua apresentação, Montezuma lembrou da realidade encontrada na rede no início do século, citando evento realizado no ano 2000 no contexto do programa Escola Campeã, patrocinado pelo Instituto Ayrton Senna, e que teve como idealizador o professor João Batista Oliveira. “Tínhamos quase 46% dos nossos alunos nos anos iniciais com distorção idade-série. Hoje esse número está em torno de 5%, e o objetivo é zerar. Conseguimos isso com planejamento, com a definição de metas claras e com o monitoramento do cumprimento delas”, disse.
Para ele, ter um sistema robusto e eficaz de avaliação também foi – e é – fundamental. “Temos informações da rede como um todo, de cada escola, turma e aluno. Com essa avaliação, podemos saber o que deve ser feito, como e onde. É a partir dela que desenhamos e redesenhamos as nossas políticas educacionais, incluindo a formação continuada dos professores”.
A formação dos professores, segundo o ex-secretário, tem como base os resultados das avaliações feitas sistematicamente. “Monitoramos o cumprimento dos objetivos ancorados em um programa de ensino estruturado. É com esse currículo, com esse programa de ensino estruturado, que conseguimos avançar na educação pública de Teresina”.
O ex-Secretário também ressaltou a importância de se adotar políticas educacionais baseadas em evidências científicas. “Temos muito mais chances de acertar – ou, pelo menos, de errar menos – quando procuramos trabalhar com base no que os estudos e dados dizem, e não em achismos. Um dos nossos acertos aqui, em Teresina, foi apostar na ciência como referência para nossa política educacional”.
Outros fatores do sucesso de Teresina, na avaliação de Montezuma, estão relacionados aos materiais e métodos pedagógicos adotados, além da criação de sistemas de estímulo ao professor. “Precisamos ter materiais amigáveis para os professores e alunos, e isso deve estar associado a um método que ajude e incentive os professores em sala de aula. É preciso que haja incentivo para que os bons resultados aconteçam”, afirmou.
O ex-Secretário frisou, ainda, que uma boa gestão – com planejamento e programa de ensino estruturado – fez toda a diferença em Teresina, e agradeceu a parceria de vários anos com o Instituto Alfa e Beto. “Em grande parte, devemos o sucesso da nossa rede à parceria que estabelecemos com o Instituto Alfa e Beto, que sempre se dedicou e esteve muito perto de nós”, disse.
Alfabetização na idade certa
Em sua apresentação, a atual Secretária Municipal de Educação de Teresina, Kátia Dantas, falou das origens da política educacional. “A política de alfabetização nasceu com um questionamento: por que nosso aluno só é alfabetizado com 7 ou 8 anos? Por que não a partir dos 6 anos, como os alunos da rede privada? Com essa pergunta nasceu um compromisso em elaborar um planejamento para alfabetizar na idade certa”, disse.
Outra decisão importante “tomada lá atrás”, segundo a secretária, foi organizar e institucionalizar um sistema próprio de avaliação. “As resoluções dependem dos resultados dessas avaliações”.
Em seguida, ela mostrou os bons resultados colhidos hoje pela rede. “Em 2019, tivemos 86% dos nossos alunos de 1º ano no nível avançado. Praticamente todos os alunos com as habilidades adequadas para a faixa etária e o ano escolar. É algo que verdadeiramente comprovou que nossas estratégias estavam dando certo. É possível, sim, alfabetizar nossos alunos na idade certa”.
Nada mais confiável do que os próprios dados para ilustrar o sucesso. “Em 2014, no 1º ano, de cada 10 alunos, somente 3 atendiam as habilidades para o seu ano. Em 2019, de cada 10, 9 alunos atenderam. A mesma proporção foi encontrada no 2º ano. Os dados mostram que, mesmo em um cenário de adversidades econômicas, é possível avançar nos resultados em pouco tempo”.
Para ela, os bons resultados se devem, principalmente, a uma gestão focada na aprendizagem dos alunos na sala de aula. “A alfabetização foi priorizada. Entendemos e reconhecemos a importância do método fônico e do programa de ensino estruturado trazido pelo Instituto Alfa e Beto. Foi um trabalho conjunto, sob o comando do professor Kleber, que sonhou, planejou, cobrou e sempre incentivou”.
Dantas também valoriza o que chama de “engrenagem que funciona de maneira coordenada” nesse momento de suspensão das aulas presenciais. “A organização do trabalho foi essencial para os professores em sala de aula. Hoje, com a pandemia, essa organização, desenvolvida ao longo de anos, não foi perdida. As estratégias continuam sendo colocadas em prática, mesmo que de maneira remota”.
A Secretária Executiva de Ensino da SME de Teresina, Irene Lustosa, acrescentou que, quando se tem um projeto pautado em uma política educacional robusta e consistente, é possível melhorar os resultados. “A história de Teresina no quesito alfabetização é a maior evidência do quanto que é possível uma ação organizada mudar um cenário em poucos anos”, frisou.
Antes de passar à palavra ao professor João Batista Oliveira, ela comentou sobre a parceria de Teresina com o Instituto Alfa e Beto desde o início dos anos 2000, a partir de um projeto piloto de alfabetização. “A parceria foi se expandindo, e hoje temos ações em outros anos escolares. O Instituto é um parceiro que se apresenta para o jogo todos os dias, inclusive em momentos difíceis como, por exemplo, os que estamos vivendo com a pandemia de covid-19. Nossos professores puderam fazer cursos gratuitos de excelente qualidade disponibilizados pelo Instituto desde o início da quarentena”.
Um exemplo que o país deve conhecer
Além de apresentar, comparar e analisar os resultados de Teresina na Prova Brasil, o presidente do Instituto Alfa e Beto procurou explicar as razões para o sucesso, lembrou a importância da alfabetização e falou também da questão do momento: como deve o retorno das aulas presenciais?
“A rede municipal de Teresina é grande, abarca uma porcentagem expressiva da população. Na pré-escola, 71% da matrícula é municipal; nas séries iniciais, 63%; e nas séries finais, 48%. É uma rede bastante grande, que passou de 100 para 130 mil alunos nos últimos anos. Vale lembrar, ainda, que 100% dos alunos da rede municipal encontram-se no nível 3 ou abaixo na escala de nível socioeconômico”, frisou.
O professor João Batista Oliveira mostrou o desempenho da rede na Prova Brasil. “Teresina começa em 2005 próxima à média do Brasil e um pouco acima do estado do Piauí. A partir de 2013, começa a ter um grande distanciamento da rede municipal em relação ao Estado e ao País”.
A cidade, hoje, se orgulha de ter a melhor rede de ensino municipal dentre as capitais, no 5º e 9º anos da Prova Brasil. “Em 2017, no 5º ano, em Matemática, Teresina somava 246 pontos, enquanto a média das outras capitais era de 216 – uma diferença de 30 pontos. Em Língua Portuguesa, a diferença era de 22 pontos. No 9º ano, a diferença é muito maior: 285 x 249 em Matemática, e 277 x 253 em Língua Portuguesa. 12 pontos na Prova Brasil é mais ou menos um ano escolar. Então, estamos falando de uma diferença muito e significativa, que está se acentuando nas últimas edições da avaliação nacional”.
Na avaliação do presidente do Instituto Alfa e Beto, esse sucesso não acontece por acaso. “É consequência de uma política educacional baseada em racionalidade, em evidências científicas. Municípios que desde 2000 têm usado métodos científicos para alfabetizar e realizar intervenções têm obtido avanços. É um contexto de ações racionais, gestão, capacitação, alinhamento de secretaria e professores, que pode explicar parte desse resultado importante”.
Não é trivial conseguir esses resultados. “Estamos falando de resultados impressionantes quando comparados com o restante do Brasil, inclusive pela velocidade das mudanças. Trata-se de um esforço notável dos gestores, professores e demais profissionais da área de educação da cidade que o Brasil precisa conhecer. Aproveito essa oportunidade para lhes dar os nossos parabéns!”, concluiu.