Um mesmo conceito une duas iniciativas prioritárias do Instituto Alfa e Beto em 2015: o da educação baseada em evidências. O tema é o cerne do livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em Educação, assinado por Micheline Christophe, Gregory Elacqua, Matias Martinez e João Batista Araujo e Oliveira, obra recém-lançada e disponível no site do Instituto Alfa e Beto. E norteia, igualmente, a criação do IDados, nova iniciativa do Alfa e Beto focada na área de educação, assentada na experiência de campo dos dez anos de existência do Instituto, com acesso a seu acervo de dados e aprendizagens práticas.
Paulo Rocha e Oliveira é o presidente do IDados, cuja equipe multidisciplinar vem de áreas como economia, estatística, inteligência artificial, engenharia, e pesquisa operacional. “A nova unidade do Alfa e Beto propõe-se a trabalhar dados, estatísticas e pesquisas que impulsionem o debate e a reflexão sobre as transformações necessárias para os avanços na educação do Brasil”, diz ele.
O IX Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto realizou-se em 4 de novembro, em Brasília, e abrigou o debate sobre o livro e o anúncio do IDados. O evento teve a colaboração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). ABDI e IAB estão em fase de consolidação de sua parceria e o IDados irá igualmente se beneficiar de iniciativas semelhantes, como as já existentes com instituições nos Estados Unidos, Chile, Europa e Índia. O destaque vai para o IESE Business School, instituição espanhola especializada em gestão e negócios, vinculada à Universidade de Navarra e que figura entre os dez melhores cursos de MBA do mundo, de acordo com o Global MBA Ranking 2015 do Financial Times. A parceria com o IESE deverá ser anunciada em 2016, na realização conjunta do X Seminário Internacional do IAB, que terá foco em produtividade e competitividade.
Abriram o evento, o Ph.D. em Políticas Públicas pela Princeton University, dos Estados Unidos, Gregory Elacqua, e o presidente do IAB, João Batista. Na plateia, a presença de Saraiva Felipe, deputado federal pelo PMDB-MG, presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, bem como de pesquisadores do BID, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Universidade de Brasília (UnB), além de especialistas da área, pesquisadores e coordenadores do Instituto Alfa e Beto.
O que sabemos a respeito do que funciona em educação?
Essa foi a pergunta-chave lançada à plateia e que norteou as provocações de João Batista e Elacqua na primeira parte do evento, destinada à discussão do livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em Educação. A resposta à questão, reconhece João Batista, deveria estar no centro do debate sobre educação hoje no Brasil. Na contramão do restante do mundo, o País ainda não reconheceu a importância do tema. “Temos ciência, evidências que validam dados, mas, em educação, esse ainda não é o modo de se trabalhar”, diz. E complementa: “Sobrevivem aqui teorias que não foram comprovadas, muito achismo e modismo, o que, infelizmente, não contribuiu para fazer uma boa educação.”
O livro se destina aos que acreditam na força de se trabalhar com evidências. Nele, convergem duas linhas de trabalho – uma, com foco no aluno, o sujeito da ação; a outra, em ações e inovações que se baseiam em evidências. A obra percorre uma metodologia rigorosa de examinar milhares de estudos, que foram revistos e passaram por testes. Não se trata de conclusões definitivas, mas instrumentos que ajudam os especialistas a tomar decisões mais refletidas.
Elacqua trouxe para o debate uma importante reflexão acerca do processo de reformas educativas baseadas em evidências na América Latina. Afirmou que, embora o cenário seja de melhoria da qualidade de vida na região, não houve o avanço desejado no nível da aprendizagem. Ele registrou que desenvolvimento econômico e qualidade da educação estão correlacionados e ressaltou o crescente interesse, no continente latino-americano, sobre reformas educacionais. “Nesse contexto”, diz, “é fundamental embasar as decisões no âmbito governamental, levando as evidências em consideração no momento de definir uma agenda de reformas ou novas políticas públicas.” E diz ser necessário, primeiro, definir que temas devem ser abordados na definição de uma agenda educativa para a região.
O pesquisador, que dedicou boa parte de seus estudos sobre educação em escolas no Chile e outros países da América Latina, apresentou um exemplo, com base no capítulo do livro que trata de tamanho de turmas, para explicar o processo de elaboração de políticas educacionais. Mostrou o processo como referência e como aplicar, com base em dados e evidências.
A expectativa é que o livro seja o catalisador de um debate qualificado para trazer à tona práticas e evidências efetivas internacionais, como acontece nos EUA e na Europa. “Olhamos para vários temas de política educacional que estão sendo implementados e discutidos no Brasil, assim como nos demais países da região. Nosso objetivo foi organizar, demonstrar e analisar a evidência, para que tomadores de decisões, pesquisadores, formuladores de políticas, possam se embasar e tirar suas conclusões sobre distintos temas da educação, com base no que funciona”, afirma Elacqua. Ainda segundo ele, cuidou-se, no livro, de propor uma agenda educativa, pautada em informações com distintas variáveis para a tomada de decisão.
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